ETA: uma história de violência e sangue

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Atentado contra Carrero Blanco, em 1973, marcou a acção da ETA nos anos do franquismo

Movidos pelo nacionalismo e influenciados pelo marxismo-leninismo, os fundadores da ETA chegaram a ser vistos com simpatia por quantos se opunham à ditadura franquista. Mas, meio século depois de ter sido criada, a 31 de Julho de 1959, o legado da organização separatista é essencialmente terror e sangue: era até ontem responsável pela morte de 826 pessoas.

O diário espanhol El Mundo lembra que a ETA-Euskadi Ta Askatasuba, que quer dizer Pátria basca e Liberdade, nasceu de uma dissidência de um colectivo que, em 1952, fora criado para reagir contra o que considerava a passividade e o acomodamento dos nacionalistas moderados do PNV. A sua primeira acção violenta terá sido uma tentativa fracassada para fazer descarrilar um comboio de voluntários franquistas que, em Julho de 1961, se dirigiam para San Sebastián.

O jornalista basco Gorka Landabaru, um dos que agora esperava “um atentado espectacular” para assinalar o “triste aniversário”, recordou à AFP o tempo em que os primeiros militantes da ETA eram recebidos em Paris por outros exilados “como heróis”. “Era mais ou menos como a juventude de 1968: as bandeiras, a cultura, a frente operária, não os assassinatos. Só eles ousavam opor-se ao franquismo”.

Mas nesses primeiros anos, em que as acções da ETA são ainda relativamente inconsequentes, forja-se a ideia de recurso à luta armada e aos atentados como forma de chegar à independência. A primeira vítima mortal de um atentado vai ser, a 7 de Julho de 1968, um guarda civil. Apesar disso, o que terá sido um dos actos mais espectaculares da organização, o assassinato, em 1973, do almirante Carrero Blanco, figura de proa do regime franquista, ainda lhe granjeou simpatias.

O fim da ditadura e a chegada da democracia poderia fazer pensar que a violência rapidamente acabaria por se tornar coisa do passado. Aconteceu o contrário. Gorka Landabaru recorda que “nos anos 1980 matavam quase cem pessoas por ano”.

“Nem a democracia, nem o estatuto de autonomia do País Basco levaram a ETA a rever os seus postulados, nem a entrada na UE, a queda do Muro de Berlim ou o choque dos atentados do 11 de Setembro”, observou o El País. Negociações com sucessivos governos, manifestações de repúdio pelos atentados, pouco ou nada mudaram, pesem momentos de trégua, nas práticas de uma organização com elevada capacidade de regeneração.

Os golpes que as forças de segurança têm regularmente desferido na ETA também não a impedem de prosseguir o seu historial de violência e terror. Estará mais fraca mas não menos violenta. E os novos líderes parecem sempre ser mais radicais do que os anteriores.

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