Instituto Tecnológico e Nuclear vai receber Torre do Tombo da política científica

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Parte dos arquivos da política científica está nos armazéns do Pendão Miguel Madeira

Os arquivos da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, da sua antecessora Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT) e do Instituto Tecnológico e Nuclear (ITN) estão a ser estudados e organizados pela primeira vez e terão uma casa nova, uma espécie de Torre do Tombo da política científica nacional, no campus do ITN, em Sacavém.

A iniciativa, lançada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) no início do ano, e que conta com a colaboração do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, visa recuperar os arquivos destas instituições, que estavam dispersos por vários edifícios, nomeadamente nos armazéns do Estado no Pendão, em Queluz, e em São Paulo, perto do Cais do Sodré, como confirmou ao PÚBLICO o presidente da FCT João Sentieiro.

“Constatámos que os arquivos estavam em dois depósitos, sem tratamento e que era inadmissível que a história da política científica não fosse tratada. Devemos combater esta tendência comum entre nós de esquecermos o nosso património”, disse, reconhecendo que há muitas solicitações de investigadores para consulta de documentos relacionados com estas instituições e que nem sempre podiam ser respondidas.

Incluído será também o arquivo do antigo Instituto de Alta Cultura, apesar de, neste caso, o Instituto Camões já ser guardião de parte do espólio e de já ter procedido ao seu tratamento.

Segundo o dirigente da FCT, o inventário da documentação está a ser feito por investigadores do Instituto de História Contemporânea, que, juntamente com a Direcção Geral de Arquivos e Arquivo Nacional Torre do Tombo, serão responsáveis por avaliar “o que faz sentido guardar e o que é para destruir”.

O futuro arquivo será reunido num edifício no campus do ITN, em Sacavém: “Concluímos que alguns edifícios do campus do ITN podiam ser aproveitados para receber o arquivo, contratámos um projecto de arquitectura que deve estar pronto antes das eleições”, acrescenta Sentieiro, que alerta para a importância da continuidade destes trabalhos independentemente da realidade política que se instalar em Portugal após as eleições legislativas de Setembro. “Talvez seja um projecto para demorar um ano a completar.

Para João Sentieiro, o objectivo é criar uma rede de arquivos, com outros espólios de outras instituições nacionais, digitalizada e disponível para investigadores nacionais e estrangeiros e não descarta a hipótese de virem a receber espólios privados que contribuam para a história da política de ciência em Portugal: “Há toda a abertura para tal”.

Para além desta iniciativa, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior lançou recentemente, no âmbito da comemoração dos 100 anos da República, um programa específico de incentivo à investigação na história da ciência nos últimos cem anos, que conta já com 60 projectos que estão em avaliação na FCT, principal entidade financiadora da ciência em Portugal. Segundo o vice-presidente da FCT, Francisco Teixeira, a avaliação deve estar concluída em Setembro. “Mas há a intenção de alargar este programa para lá do âmbito do centenário da República."

No primeiro Encontro Nacional de História da Ciência, promovido no âmbito deste programa, que se realizou a semana passada, Ana Simões, historiadora da ciência do Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia alertou: “O espólio das instituições está a perder-se, apesar de haver cada vez mais sensibilização do pessoal dessas instituições para que o estimem, para que não o deitem fora. Se não tomarmos medidas neste momento não vamos poder fazer um dia a história da ciência do século XX.”

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