David Adjaye, o arquitecto do centro cultural África.cont, está à beira da insolvência

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Não há nenhuma indicação de que os problemas financeiros do britânico possam afectar o projecto que tem para Lisboa. A crise está a atingir em força os ateliers de arquitectura

David Adjaye, o arquitecto britânico que tem um projecto previsto para Lisboa - o centro para a cultura africana contemporânea África.cont - enfrenta o risco de insolvência no seu atelier. O diário The Independent fala em "queda de um homem do espectáculo" no artigo em que explica os problemas financeiros com que se depara aquele que é considerado um dos mais brilhantes e mediáticos jovens arquitectos britânicos.
Vários projectos encomendados ao atelier de Adjaye foram nos últimos meses adiados ou cancelados, o que desencadeou a crise. O britânico de origem africana (nasceu na Tanzânia, de pais naturais do Gana) viu-se obrigado a negociar um Company Voluntary Arrangement (acordo empresarial voluntário), renegociando a sua dívida com os credores para evitar declarar insolvência. Calcula-se que a dívida ultrapasse um milhão de euros e que Adjaye tenha já colocado 578 mil euros do seu dinheiro pessoal na empresa.
A notícia, que foi inicialmente dada pela revista especializada Building Design, é tanto mais surpreendente quanto Adjaye venceu recentemente o concurso para o projecto do novo Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana em Washington. O arquitecto, que em 2006 esteve na short-list para o prestigiado Stirling Prize pela biblioteca Ideal Store em Whitechapel, Londres, está também a trabalhar num projecto de casas para as vítimas do furacão Katrina em Nova Orleães - uma iniciativa da Fundação Make it Right, do actor Brad Pitt.
Projectos cancelados
Mas o cancelamento de projectos em Birmingham, Abu Dhabi, Kuala Lumpur e Índia parece ter sido um golpe dramático para um atelier que cresceu muito rapidamente - formado em 2000, a Adjaye Associates abriu entretanto escritórios em Nova Iorque e em Berlim. Segundo Lane Bednash, da empresa Valentine & Co, com a qual o atelier negociou o acordo empresarial, este tornou-se necessário porque Adjaye quis evitar despedimentos apesar da quebra no volume de trabalho.
"O acordo empresarial voluntário é uma realidade", admitiu Adjaye à Building Design, "mas não é nada que me faça envergonhar. O ano passado foi difícil devido à crise, mas já ultrapassámos o pior. Temos encomendas suficientes, estamos a pagar as nossas dívidas muito bem, por isso estamos numa boa situação". O optimismo do arquitecto parece ser um sinal de que o projecto para Lisboa, nas Tercenas do Marquês, junto às Janelas Verdes, não está em risco. José António Fernandes Dias, o responsável pelo África.cont, disse ao P2 que o processo continua a decorrer como previsto e que não ter qualquer informação sobre um eventual impacto das dificuldades financeiras de Adjaye no projecto.
Crise atinge arquitectos
Mas, contrariando o optimismo de Adjaye, Richard Brindley, responsável do RIBA (Royal Institute of British Architects), disse à Building Design que é difícil para qualquer atelier de arquitectura com problemas de insolvência conseguir novos trabalhos.
A crise tem afectado fortemente os ateliers de arquitectura em todo o mundo, e não tem poupado as grandes estrelas. Em Fevereiro, o atelier britânico Foster & Partners, de Norman Foster - responsável, por exemplo, pelo novo aeroporto de Pequim, ou pelo Reichstag, em Berlim - anunciou que ia despedir 300 pessoas e encerrar alguns dos escritórios que tem em mais de 20 países. Também Foster viu vários grandes projectos que tinha em mãos serem cancelados, nomeadamente aquela que seria a torre mais alta da Europa, em Moscovo, um arranha-céus no local do World Trade Center, em Nova Iorque (adiado), a Torre U2 em Dublin e a River Tower, no Vietname.
Dados do RIBA citados pelo Independent indicam uma quebra de 35 por cento nos trabalhos de arquitectura este ano, e revelam que 17 por cento dos 23 500 arquitectos registados no Reino Unido estão actualmente desempregados. Os ateliers "estão a tentar manter os seus funcionários na esperança de que o trabalho volte a aumentar", explica Richard Brindley. Mas, avisa: "A menos que o Governo preste atenção à situação, há o risco de o números de desempregados continuar a aumentar".

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