Indonésia torturou os cinco jornalistas que depois assassinou em Balibó

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Ramos-Horta assistiu à estreia de "Balibó" MICK TSIKAS/Reuters

Os jornalistas anglófonos assassinados em Timor-Leste no ano de 1975 chegaram a ser torturados e depois foram mutilados, especificou hoje o Presidente José Ramos-Horta, convidado de honra na estreia mundial de "Balibó", um filme sobre esse incidente.

"Não foram apenas executados. Do que me recordo de ter investigado em 1975 e 1976, pelo menos um deles foi brutalmente torturado", disse o chefe de Estado timorense, na abertura do Festival de Cinema de Melbourne.A obra, cujo argumento foi escrito a partir de um livro da jornalista australiana Jill Joliffe, é muito realista, mas mesmo assim o realizador não conseguiu dar toda a natureza dos assassínios, pois as cenas de tortura e de mutilação protagonizados por militares indonésios teriam sido demasiado chocantes, explicou Ramos-Horta, que na altura era um comandante da guerrilha independentista timorense.
Jacarta sempre disse que cinco jornalistas da Austrália, da Nova Zelândia e do Reino Unido morreram num tiroteio entre as suas tropas e os combatentes da Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (Fretilin), versão que foi aceite por sucessivos governos australianos mas que hoje em dia se encontra completamente desacreditada.
Uma investigação efectuada em 2007 na Austrália apurou que eles foram executados quando pretendiam render-se às tropas indonésias; e houve quem tivesse feito acusações de crimes de guerra, que nem Camberra, nem Jacarta, nem Díli quiseram formalizar.
Descendo hoje mais fundo do que tudo aquilo que até agora se sabia, Ramos-Horta especificou que os comandantes da Indonésia mandaram queimar os corpos dos jornalistas, de modo a melhor esconder o seu crime.
Ontem, Shirley Shackleton, viúva do jornalista australiano Greg Shackleton, pediu ao Governo do seu país que trate da trasladação dos restos mortais daquela vítima da ditadura indonésia de então, bem como das demais: Tony Stewart, Brian Peters, Malcolm Rennie e Gary Cunningham.
As cinzas dos dois jornalistas australianos, dos dois britânicos e de um seu camarada neo-zelandês encontram-se actualmente num único caixão, num cemitério de Jacarta. E Shiley Shacketon pretende que o filme hoje estreado em Melbourne sirva para despertar a consciência das novas gerações. De modo a que jamais se repitam atrocidades como as que foram cometidas quando o general Suharto dirigia os destinos da Indonésia.
Um sexto jornalista, o australiano Roger East, que se dirigiu a Timor-Leste para investigar a morte dos primeiros, veio a ser morto em Díli seis semanas depois, quando as forças invasoras que tinham começado por entrar em Balibó alcançaram a capital do território, que era na altura uma colónia portuguesa.
O filme, primeira longa-metragem a ser rodada em Timor-Leste, incluindo na figuração cidadãos locais, ao lado de um elenco internacional, mostra Roger East (Anthony LaPaglia) a ser espancado e executado no cais de Díli, na altura em que era esmagada a primeira e efémera República de Timor-Leste, que só viria a ser restaurada depois de 24 anos de ocupação indonésia, que se saldou por mais de 180 mil mortes.

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