Incendiário

Se estivesse à altura da entrega da sua actriz, Michelle Williams, teríamos aqui um grandíssimo filme

O seu a seu dono: Michelle Williams é uma actriz extraordinária e "Incendiário" (completado logo antes de "Wendy and Lucy" de Kelly Reichardt) confirma-a como actriz disposta a correr os riscos que assustam muitas outras.Aqui, ela é uma dona de casa do East End londrino que soçobra quando o marido e o filho de quatro anos morrem num atentado terrorista num estádio de futebol - e a sua interpretação é de uma entrega assustadoramente perturbante, habitando cada momento desta mulher que perdeu a razão de viver com uma modulação quase perfeita de emoções.


Mas a adaptação do romance da escritora Chris Cleave por Sharon Maguire ("O Diário de Bridget Jones") não está à altura da sua actriz. "Incendiário" é, ao mesmo tempo, um retrato de mulher e uma metáfora de Londres enquanto cidade cuja história turbulenta lhe permite resistir a tudo, e enquanto o filme só é isso estamos muito bem. Mas as tramas paralelas - o "affaire" com o jornalista Ewan McGregor, a investigação sobre os autores do atentado - pouco adiantam e parecem estar lá apenas para oferecer aos espectadores âncoras de género reconhecíveis para "facilitar" a entrada num filme que, na sua essência, é um olhar sombrio e angustiante para uma mulher que perdeu tudo.

"Incendiário" não deixa por isso de ser nunca menos que interessante, sobretudo porque não escamoteia a complexidade dos temas que trata; mas se estivesse à altura da entrega da sua actriz teríamos aqui um grandíssimo filme.

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