Traidor

Pelo meio dos "monos" que as distribuidoras têm passado as últimas semanas a despejar nas salas, há ainda espaço para surpresas como esta

Ponhamos a coisa assim: "Traidor" é um "Syriana" que tivesse feito trabalho de ginásio e apresentasse um físico ao nível da inteligência. À superfície, é sobre a perseguição movida pelo FBI a um ex-comando americano, especialista em explosivos e muçulmano devoto, que está agora ligado a uma célula terrorista. Mas o verdadeiro tema de "Traidor" é a manipulação: toda a gente nesta história está a manipular todos os outros, nada é o que parece, e filme joga a esse nível (mesmo que de modo leal) com o espectador.


A chave está numa citação de uma das personagens - e uma citação que não anda nada longe do que Don de Lillo disse em tempos: "o terrorismo é como o teatro, e o teatro é sempre representado para uma audiência". Isso é, depois, dobrado por Jeffrey Nachmanoff de comentários velados ao mundo em que vivemos, mas o que torna o seu filme tão digno de nota é o modo como tudo isso é integrado de modo inteligente e fluido na forma convencional do "thriller" "globe-trotter" contemporâneo (ritmo nervoso, câmara à mão, fotografia saturada, acção a decorrer em múltiplos países), sem a trair nem a sobrecarregar com declamações desnecessárias. Pelo meio do "refugo" e dos "monos" que as distribuidoras têm passado as últimas semanas a despejar nas salas, há ainda espaço para surpresas como esta, que correm o risco de se perder pelo caminho.

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