Ban Ki-moon é o primeiro político estrangeiro a visitar os campos de refugiados - ou de concentração - do Sri Lanka

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O Presidente Mahinda Rajapaksa é festejado como um herói nas ruas de Colombo David Gray/REUTERS

Há “mais de 300 mil pessoas a precisar de comer, de beber e de receber cuidados” em campos de refugiados no Sri Lanka, disse hoje o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, ao visitar um desses espaços, montados para os que fugiram da zona de combates do exército com a guerrilha independentista dos Tigres Tâmiles.

Ban é o primeiro político ocidental a visitar o país, e a ter acesso à zona de combate e aos campos de refugiados, desde que a ofensiva lançada pelo Presidente Mahinda Rajapaksa entrou na fase final – ou seja, pelo menos há largos meses. A vitória do exército, com a morte do líder histórico da guerrilha, o comandante supremo Velupillai Prabhakaran, pôs fim a um conflito que durava há 25 anos.

O secretário-geral da ONU visitou o gigantesco campo de refugiados de Manik Farm, 90 quilómetros a sudoeste da zona onde se verificaram os combates. Cercadas de arame farpado, acumulam-se ali 170 mil pessoas, segundo a agência noticiosa AFP, ou 220 mil de acordo com a Reuters. O Governo chama-lhe “campo de emergência”, organizações de direitos humanos como a Human Rights Watch ou a Amnistia Internacional denunciam-no como “campo de concentração” para a minoria tâmil.

“Senti-me muito humilde depois do que vi ali”, comentou Ban, que visitou ainda um hospital de campanha para feridos resultantes do conflito. Manik Farm “é o maior campo de deslocados do mundo”, disse John Holmes, responsável pelos assuntos humanitários na ONU, citado pela AFP.

As Nações Unidas continuam a exigir, sem sucesso, acesso total aos campos de refugiados tâmil. O Governo prometeu que dará esse acesso, a devido tempo, mas por ora não: está a tentar descobrir se há ex-guerrilheiros tâmiles entre os refugiados. Dentro de seis meses, dizem as autoridades cingalesas, os deslocados verão a sua vida normalizada.

“Vamos tentar fazer com que essa promessa seja cumprida. Estas pessoas precisam de sair dos campos o mais rapidamente possível”; comentou Ban. Quando os jornalistas que acompanharam a sua viagem – também os primeiros a ver as dimensões da catástrofe humanitária, pois também não tinham acesso ao teatro dos confrontos –, lhe perguntaram o que pensava da forma como o Governo estava a gerir os campos, Ban não foi muito efusivo, mas foi claro: “Têm claramente uma capacidade limitada”.

O Governo de Colombo lançou um pedido de ajuda internacional e pediu ajuda às Nações Unidas para conseguir 151 milhões de dólares para melhorar os campos de refugiados e cuidar dos milhares que lá estão, sem poderem de lá sair.

Crimes e festa nas ruas

Ban vai ainda encontrar-se ainda hoje com o Presidente Mahinda Rajapaksa, que lançou a nível nacional um programa de comemorações da vitória contra os separatistas tâmil, com danças, música e festas na rua.

No Ocidente fala-se em crimes humanitários e de guerra, cometidos tanto pelo exército como pela guerrilha. O exército anunciou que nos últimos três anos da luta contra a rebelião tâmil morreram 6200 soldados e 22 mil guerrilheiros. A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, já manifestou o seu apoio a que seja lançada uma investigação independente sobre os abusos cometidos na fase final da guerra contra os Tigres Tâmiles,

Tentando defender-se destas críticas, o Sri Lanka apresentou ontem no Conselho de Direitos Humanos da ONU uma proposta de resolução reafirmando o “princípio de não interferência” nos seus assuntos internos, e reclamando respeito pela sua soberania, adianta a agência Reuters. A proposta recebeu já o apoio de 12 países: China, Índia, Paquistão, Bahrein, Bolívia, Cuba, Egipto, Indonésia, Malásia, Nicarágua, Filipinas e Arábia Saudita.

Diplomatas ocidentais citados também pela Reuters, que estão a preparar uma resolução para ser apresentada numa sessão especial do Conselho de Direitos Humanos sobre o Sri Lanka, na terça-feira, receiam que estes países formem um bloco para impedir uma investigação mais profunda.

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