Amazing Grace

Por trás da história bem-intencionada de um homem que lutou por um mundo melhor, esconde-se uma exploração do que significa ser uma figura pública

Há qualquer coisa de intrigante nas tensões que atravessam esta biografia do deputado inglês William Wilberforce que, no final do século XVIII, lutou incansavelmente para abolir o comércio de escravos no Reino Unido. À superfície, é um exemplo perfeito da "qualidade inglesa" que neste momento já não surpreende ninguém (impecável reconstituição de época, elenco na mouche, tudo no seu sítio) - só que, neste caso, trata-se de uma produção americana (com um dos produtores, surpreendentemente, a ser o esquivo Terrence Malick), "encomendada" ao veterano Michael Apted ("A Filha do Mineiro", "007 O Mundo Não Chega").


Mas, por trás da história bem-intencionada de um homem que lutou por um mundo melhor, esconde-se uma exploração do que significa ser uma figura pública, sacrificar a vida e a saúde em nome de uma causa maior mas incompreendida - é claramente por aí que Apted e o argumentista Steven Knight (guionista dos "Estranhos de Passagem" de Frears e das "Promessas Perigosas" de Cronenberg) preferem ir, muito bem sustentados pelas performances de Ioan Grufudd, Romola Garai e Benedict Cumberbatch.

Encomenda oblige, "Amazing Grace" nunca resolve a contento essa esquizofrenia entre o estudo de câmara e a biografia de prestígio, e a tonalidade triunfal do final é um erro, mas é fita mais interessante do que parece - fica mesmo só por explicar porque é que foi "tirado da prateleira" com dois anos de atraso...

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