Depois de "Águas Mil" e "Muitos Dias Tem o Mês", a terceira entrada na competição nacional do Indie é uma valente surpresa. "Birth of a City" tem a sua primeira exibição hoje, dia 27
No papel, "Birth of a City" (Cinema Emergente / Competição Nacional de Longas) tem tudo a jogar contra: é um filme de fim de curso, falado em inglês, e uma espécie de ensaio psico-geográfico que não andará muito longe do que, por exemplo, Jon Savage fez com o seu livro sobre o punk, "England's Dreaming", ou o que Grant Gee fez com os Joy Division no seu documentário.
No écrã, contudo, a pimeira obra do jovem escritor e cronista João Rosas cruza de modo inspirado um documentário tradicional sobre uma artista ao trabalho, um diário londrino e uma meditação sobre o modo como cada cidade são, na realidade, muitas cidades diferentes.
O título do filme nasce do quadro urbano que Clare Fhays pinta no seu atelier, cujo desenvolvimento acompanhamos, inspirado pela cidade à sua volta; mas também do modo como João Rosas contrapõe essa criação artística de uma cidade imaginada à sua própria imagem e construção de Londres centrada no bairro de Hackney, onde viveu durante os seus estudos na London Film School.
Rosas consegue fazê-lo de modo acessível e estimulante, sem elitismos nem petulâncias, através de um bom trabalho de montagem alternada e de uma inteligente narração em off que sintetiza a sua abordagem de modo incisivo e directo. "Birth of a City" é uma estreia auspiciosa, de uma maturidade notável para primeiro ensaio, apesar dos acabamentos amadores e de uma duração claramente excessiva.
BIRTH OF A CITY
Portugal/Grã-Bretanha, 2009, 79 minutos
Documentário de João Rosas
Londres 1, segunda 27 às 21h45, e Londres 2, sexta 1 às 15h00