Mário de Moura, fundador da Pergaminho, cria nova editora livreira aos 84 anos

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O editor de Paulo Coelho em Portugal demitiu-se do grupo Bertelsmann e criou a Vogais & Companhia, que já tem um primeiro livro

Mário de Moura, o editor responsável pela publicação do brasileiro Paulo Coelho em Portugal, demitiu-se do grupo Direct Group/Bertelsmann, a quem tinha vendido em 2008 as suas editoras e chancelas (Pergaminho, Arte Plural, Gestão Plus, Bico de Pena, O Quinto Selo) e criou uma nova editora.

O Diário de Um Banana, de Jeff Kinney, é a primeira obra da Vogais & Companhia Edições a chegar às livrarias.

Com 84 anos e 55 de vida editorial, Mário de Moura vendeu o ano passado ao grupo alemão em Portugal (detentor do Círculo de Leitores, Bertrand e Quetzal) um catálogo de 700 títulos com cerca de 200 autores (facturavam 5 a 6 milhões de euros por ano). Levou também a sua equipa e ficou com as funções de director.

Mas na altura tomou a decisão de não vender a sua distribuidora, que assegurava a distribuição dos livros da Pergaminho e das marcas a ela associadas.

"Apesar de ter quatro filhos, nenhum se interessava pela editora e resolvi vender. Vendi um catálogo e uma equipa e nunca valorizaram isso. A estrutura da Bertelsmann em Portugal está muito distante da estrutura que tem em outros países", afi rma. Mário de Moura ficou desiludido quando percebeu que afinal aquela "estrutura não é uma estrutura editorial". "Não existem sinergias com as outras editoras do grupo nomeadamente com as espanholas.

E, na minha opinião, os conceitos de gestão deles estão errados", diz.

"O que me interessa é editar a obra de um autor e não livros avulso. Um editor, para funcionar bem, tem que ter paixão pelo livro, respeitar muito os autores e o público".

Em Dezembro, quando foi tomada a decisão da fusão da Pergaminho com a Bertrand demitiu-se e não pensava voltar a editar. Mas, como não tinha vendido a distribuidora e continua a distribuir os livros da editora Pergaminho, resolveu fazer uma pequena editora. Chamou-lhe Vogais & Companhia, já que a distribuidora é a Konsoante.

60 livros a caminho

Já tem contratados 60 títulos. Na literatura juvenil, começa com O Diário de Um Banana, de Jeff Kinney o diário de Greg Heffley, um rapazinho fracote acompanhado por desenhos, que está a apaixonar os miúdos americanos dos oito aos doze anos, que nunca lêem outros livros mas não largam estes. A personagem é uma mistura de Dennis, o pestinha, e de Bart Simpson.

O primeiro livro desta série foi publicado em 2007. Este primeiro volume aguentou-se 89 semanas na lista dos livros para crianças mais vendidos do New York Times e foi traduzido para 28 línguas. Está a ser adaptado ao cinema. Nos EUA, já saíram três volumes e Mário Moura vai publicá-los todos.

O Diário de Um Banana sai com o selo da editora portuguesa mas também com o selo da editora brasileira Vergara & Riba Editores, onde já estava editado. Isto porque os brasileiros estão a contratar os direitos dos livros para a língua portuguesa, que, depois da ractificação do acordo, é uma só.

Outra das apostas da editora é a publicação em Portugal dos livros do autor de ficção científica Scott Westerfeld, cuja série dedicada aos adolescentes, Uglies, está na lista dos best-sellers do New York Times e vai ser adaptada ao cinema. Bem como a série para jovens adultos Midnighters.

"Na área dos álbuns infantis, vamos privilegiar autores portugueses e temas realmente educativos e modernos", conta Mário Moura. "Iniciaremos com o título O Gato que Amava a Mancha Laranja, de Elza Mesquita e Ana Pereira, sobre o abandono de animais, e as mesmas autoras vão adaptar um conto de António Sérgio sobre a fauna marítima. Teremos ainda uma colecção exclusivamente sobre ecologia e uma outra sobre folclore e a tradição oral na literatura portuguesa." Vão ter ainda livros de auto-ajuda e da área do esoterismo e darão oportunidade a autores portugueses.

Estão também a lançar uma nova tradução de A Arte da Guerra, com base no texto original, feita por uma equipa que dedicou dez anos a este projecto. Quer ainda apostar no sector do audiolivro.

Mário de Moura não irá buscar autores seus que ficaram nas suas antigas editoras. Ele que vendeu 2 milhões e 200 mil livros de Paulo Coelho em Portugal acredita que parte do sucesso das suas editoras deriva da boa distribuição.

A sua distribuidora coloca livros não só nas grandes superfícies e nos espaços livreiros tradicionais como os seus vendedores percorrem o país em carrinhas e têm livros à venda em estações dos correios, estações de combustíveis, etc. "Vendemos em mais de 500 mil postos fora das livrarias e o nosso sistema informático é o mesmo que é utilizado pelas distribuidoras de cervejas."

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