Imagens de Palermo

Há um odor de hipocrisia aqui à solta. Até de oportunismo

É um momento de agudo "kitsch" do beato Wim Wenders, sempre à volta das imagens e da sua perda de "essência". Um fotógrafo (interpretado por uma estrela rock alemã, Campino), personagem em crise existencial, descobre o embuste da existência durante uma rodagem (o "shooting" do título) - a crise leva-o a ver o rosto da morte em Palermo tal como Jack Nicholson "desaparecia" no deserto de Almeria em "Profissão: Repórter", de, claro, Michelangelo Antonioni. Depois, há Dennis Hopper enquanto Morte, e para nos vir à memória, claro, "O Sétimo Selo", de Ingmar Bergman; e ainda o anjo Lou Reed enquanto anjo Lou Reed ou Milla Jovovich enquanto Milla Jovovich. E diálogos de uma aflitiva banalidade a comporem um pretensioso "requiem".


Que é um filme visualmente tão saturado de novoriquismo e de pechisbeque figurativo, há um odor de hipocrisia aqui à solta. Até de oportunismo. E de uma sobranceria que por mais que seja disfarçada não se esconde: Wenders dedica o filme aos desaparecidos Michelangelo Antonioni e a Ingmar Bergman parecendo querer sobretudo colocar-se no retrato de uma família que, quer mostrar, trata por "tu".

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