O cão maravilha

É a melhor tradição da Disney que ressurge com este supercão herói.

Não seria a intenção da Disney que Bolt, o super-cão herói de uma série de televisão que se vê despachado para Nova Iorque e entregue a si próprio na sequência de uma patada da produção, fosse ofuscado por uma gata espertalhona e por um hamster hiperactivo, ah pois não. Mas essa é a menor das surpresas de "Bolt", a primeira animação do novo regime do estúdio a trazer nítida a "marca" do novo "patrão", John Lasseter, o mago da Pixar - e a primeira animação Disney em muitos anos a chegar perto da fasquia que Lasseter e a Pixar foram elevando com "Monstros & Cª", "À Procura de Nemo", "Os Super-Heróis", "Carros", "Ratatouille" e "Wall-E".

É a melhor tradição da Disney que ressurge na viagem transamericana de Bolt, de Nova Iorque a Hollywood, para reencontrar a sua dona inconsolável, acompanhado por Mittens, uma gata de rua com um segredo, e Rhino, o tal hamster hiperactivo, numa história que ecoa ao mesmo tempo clássicos do filme de família como as aventuras de Lassie e fitas de boa memória do próprio estúdio como "Os Aristogatos".

O truque narrativo, contudo, é bem mais moderno e vem do "Truman Show" de Peter Weir: Bolt, o cão maravilha, foi criado desde bebé na bolha fechada do estúdio de filmagens e não tem consciência que é apenas um cão normal cujos super-poderes são meros efeitos especiais. O que se segue é uma viagem iniciática que não reinventa a roda nem traz nada de novo ao género, mas que consegue ultrapassar o convencionalismo derivativo da história com uma atenção superlativa às personagens, à construção da narrativa, aos gagues de fundo que recompensam as visões múltiplas e ao trabalho de animação, de uma riqueza gráfica inexcedível. A esse respeito, vale muito a pena ver "Bolt" na versão em 3D digital para perceber o que a técnica pode trazer a um filme. "Bolt" é bem capaz de ser a melhor animação da Disney em muitos anos.

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