Eu Quero Ver

Não estamos certos de ter visto... Joana Hadjithomas e Khalil Joreige escolheram uma estrela internacional, Catherine Deneuve, para introduzir recuo, distância, exterioridade - é o que têm dito nas entrevistas - na "paisagem", tantas vezes filmada sempre do mesmo ponto de vista, de Beirute, no Líbano. (Tem tudo a ver com o trabalho da dupla libanesa sobre a memória e o seu apagamento, que os tem obcecado.) O que se mostra em "Quero Ver" é Deneuve: o programa é o lado de "cara em branco" da actriz funcionar como ecrã para as projecções, dúvidas, do espectador. Ainda assim: não estamos certos de ter visto... o que vê Deneuve.

Se repararem, há uma tensão, um mal-estar, na actriz que, se pode ser o rosto do incómodo pela presença em terra estranha - decisivo para o gesto de Joana Hadjithomas e Khalil Joreige - , muitas vezes é tão só incómodo que lhe provoca o dispositivo. O espectador é, assim, distraído - pela presença vedeta -, a suspeita instalase: o que é que se fabrica ou não neste documentário? Neste filme, afinal, o gesto foi tudo.

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