Mal Nascida

João Canijo volta a assinar uma tragédia clássica no Portugal profundo, um crime de sangue a ensombrar uma família de emigrantes perseguida pela desgraça - ou que talvez construa a sua própria desgraça ao tentar desesperadamente escapar-lhe, num turbilhão opressivo e claustrofóbico delimitado pelas quatro paredes do café onde uma filha em luto perpétuo por um pai há muito falecido (impressionante Anabela Moreira) confronta quotidianamente a venalidade e o egoísmo da mãe e do padrasto (notáveis Márcia Breia e Fernando Luís). Mas serão eles os únicos a construirem a sua vida sobre uma mentira? Ou Lúcia é digna filha de seus pais?

Canijo vai dando corda à situação com um mecanismo de tensão impecavelmente construído - até, às tantas, começarmos a sentir que tudo está a rodar em seco ou em círculos, e quando a náusea que se adivinhava desde o princípio finalmente surge sentimos que o seu impacto vem diluido. É um belo filme que ficou apenas a um passo da excelência.

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