Um livreiro de Cabul quer pôr o Afeganistão a ler

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Uma livraria não chega para "O livreiro de Cabul" Omar Sobhani/Reuters

Uma livraria com quase um milhão de livros não é suficiente para educar o Afeganistão porque os livros não chegam a todas as pessoas. Por isso Shah Muhammad Rais, há 35 anos no negócio livreiro, já andou com uma livraria móvel a percorrer parte do país e agora tem um site de venda de livros.

“Infelizmente e com pena minha tenho que admitir que sou o maior vendedor no Afeganistão. Vai haver uma crise de venda de livros se algo nos acontecer ou se falirmos”, explica o livreiro de 54 anos. “É por isso que é muito importante conseguir que outros também se envolvam nisto”, acrescenta.

Shah Muhammad Rais orgulha-se da sua livraria que fica no centro de Cabul. Quem a visitar tem a oportunidade de ver a maior colecção de livros sobre o Afeganistão nas mais importantes línguas do mundo. "Diria que a colecção é única”, diz o vendedor que é conhecido por muitos amantes de livros da capital.

O livreiro já esteve na prisão durante o regime soviético por vender “livros imperialistas” e cópias de jornais de facções afegãs que estavam contra o regime e eram apoiadas pelo Ocidente. Rais também ficou conhecido mundialmente como um homem brutal para a sua família no livro da jornalista norueguesa Asne Seierstad intitulado “The bookseller of Kabul” (O livreiro de Cabul), que saiu depois da queda dos Talibã em 2001. O livreiro tinha acolhido a autora na sua casa e quando leu o livro esteve quase para a processar.

Mas nem as piores experiências nem o sucesso da livraria o fizeram parar. “Os livros são como o mar. Tem que se mergulhar no mar para apanhar a pérola. Tem que se ler livros para resolver os problemas do país”, explica o livreiro. Em 2002 decidiu pôr o resto do país a ler. Encheu uma carrinha com cerca de 20.000 livros e em 2006 foi até às regiões do Norte vendê-los.

“Desta forma um estudante salvava dinheiro e tempo por não ter que viajar desde Kunduz ou Takhar até Cabul para comprar um livro”, explicou. Apesar do esforço a carrinha não ia até ao Sul porque a guerra tornava as viagens perigosas na região.

O entusiasmo foi grande, mas sem a ajuda do governo ou de ONG, Muhammad Rais teve que desistir do projecto. "Claro que o negócio fazia parte dos meus objectivos, mas as pessoas teriam beneficiado mais do projecto”, explica. O custo dos livros não era maior do que se fossem comprados na livraria.

Agora o livreiro continua os seus esforços através da net, lançando um site www.shahmbookco.com. “Através dos livros, as nossas crianças ficariam a conhecer a sua cultura, a sua história e iriam compreender o mundo”, defende. Por isso a internet é o melhor meio para chegar a todas as pessoas. Apesar de o transporte ficar a cargo de quem compra o produto.

Rais vai continuar expandir o negócio, quer construir uma livraria maior e criar contactos com outras livrarias do mundo. A leitura tem decrescido no Afeganistão devido a três décadas de guerra, e o vendedor deseja contrariar a tendência, “a não ser que reintroduzamos o hábito da leitura, vamos ter mais iliterados e mais problemas”, afirma.

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