Optimus Alive! termina entre cantautores e incendiários

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O festival rendeu-se à convicção e alma das canções de Neil Young DR

Terminou ontem, em Algés, a segunda edição do Optimus Alive!. O alinhamento foi, sem dúvida, o mais consistente dos três dias de festival. O palco principal abriu-se a um desfile de cantautores que teve em Neil Young o grande senhor. A tenda de dança, por seu lado, foi pequena para receber os momentos de furor proporcionados por Midnight Juggernauts, Gossip, Róisín Murphy e MSTRKRFT.

Ainda o Optimus Alive! estava a lembrar-se de uma lenda – Bob Dylan – quando a noite lhe trouxe outra: Neil Young. Em comum, a capacidade de escrever grandes canções, a extraordinária influência sobre várias gerações de músicos e ouvintes e o privilégio dado à música em detrimento da imagem. Mas com Young não há mistérios, nem rugas escondidas. O título de lenda é mais que merecido, mas não lhe cai bem pelo endeusamento que implica – o canadiano é mais próximo, mais modesto, mais humano até. O epíteto de mestre assenta-lhe melhor. Mas chamemos-lhe antes avô, pai ou padrinho, qualquer coisa mais familiar. O Optimus Alive! viu os seus dois lados: eléctrico e acústico. O concerto começou com Young agarrado à guitarra eléctrica – por vezes, para divagações demasiado longas – e, pouco depois, oferecia o momento por que todos esperavam e que tão bem representa a mensagem que Young vem pregando desde sempre com a mesma convicção: "Rockin' in the free world". Seguiu-se uma sessão acústica solene, de tornar quase palpável a alma de canções como "Mother Earth" (com Young ao piano e a lua ao fundo, foi um dos momentos de maior beleza). Na recta final, Neil Young voltou a sacar da guitarra eléctrica. Despediu-se, já em encore, com uma versão de "A day in life", dos Beatles. Memorável.

Ben Harper

ficou para o final da noite. Trouxe o intimismo, as mensagens de paz, o virtuosismo, a "slide guitar", o tapete debaixo dos pés, a fusão de estilos – tudo o que o tornou um dos mais importantes músicos da sua geração e, simultaneamente, um dos mais acarinhados pelo público português. Exceptuando alguns temas mais recentes, o Optimus Alive! não viu nada de Ben Harper que Portugal não tivesse visto já. Foi mais do mesmo, com a chama menor e o tom mais amolecido de quem tem o concerto ganho à partida. Isto não chega para tirar mérito ao músico norte-americano, nem para tirar cotação ao concerto – a qualidade de canções como "Excuse me Mr.", "Jah work", "Diamonds on the inside" ou "Welcome to the cruel world" não o permite –, mas chega para denunciar algum cansaço.

A chegada a Neil Young e Ben Harper foi-se fazendo ao som de músicos que partilham do mesmo espírito. O Palco Optimus abriu com o norte-americano Braddigan. Depois, foi até à Austrália apanhar umas ondas com Xavier Rudd (nota para a presença de um grupo de australianos entre a imensa fatia de estrangeiros no festival), que, afundado em didgeridoos, guitarra acústica, guitarra eléctrica, harmónica e outros instrumentos, deixou correr a banda sonora ideal para o fim da tarde. Sem sobressaltos nem euforias, a música fluiu naturalmente para Donavon Frankenreiter, californiano amigo de Jack Johnson e Ben Harper (que o convidou para tocar e cantar "Diamonds on the inside").

Por esta altura, já o palco Metro On Stage vibrava, apinhado, com a prestação dos Midnight Juggernauts. Se o "new rave" retro e estiloso do disco já é viciante, a versão ao vivo é ultra-contagiante. Em "Into the Galaxy", deixado para o final, deu-se o anti-climax: ficaram sem som. Mas há azares que se transformam em bons momentos. Quando os problemas foram finalmente resolvidos, retomaram o concerto e despediram-se com o público na palma da mão. O trio australiano inaugurou, assim, uma sequência incendiária. Se nos Moloko Róisín Murphy já era uma força incontrolável, a solo não há quem a dome. De temas seus como "Overpowered" a resgates aos Moloko via "Forever more", foi protagonista de uma extravagância deliciosa. Os Gossip de Beth Ditto chegaram atrasados, correram para o palco e desataram a debitar o seu rock dançável, com atitude punk e pontapés em preconceitos. Quando soou "Standing in the way of control" já o palco tinha sido invadido pelo público. Depois de Brodinsky, que não conseguiu segurar a multidão (Ben Harper estava prestes a entrar em cena), surgiram os MSTRKRFT. Do alto dos seus bigodes e devidamente acompanhados por "groupies", a dupla canadiana pôs os AC/DC a conviver com Timbaland, visitou Eurythmics, Kylie Minogue e Daft Punk, incendiou a tenda com "Bounce" e nem dos Justice se esqueceu.

Foi um remate em grande para o último dia do Optimus Alive!. Apesar de muito concorrido, não repetiu a enchente de 40 mil pessoas verificada no primeiro dia. Ao longo dos três dias de festival, passaram pelo evento cerca de 100 mil pessoas. A organização já está a trabalhar na edição de 2009, marcada para 9, 10 e 11 de Julho, no mesmo local (Passeio Marítimo de Algés). O cartaz começa a ser conhecido em Setembro, mas já há uma confirmação: um grande nome começado pela letra D. Que comecem as apostas.

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