50 anos da Bossa Nova na voz de Luanda Cozetti dos Couple Coffee

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Luanda Cozetti e Norton Daiello criaram em 2005 o grupo "Couple Coffee" DR

Tudo começou quando João Gilberto se cansou das vozes tristes das cantoras brasileiras dos anos 30 e 40 e gravou “Chega de Saudade”. A melodia, demonstrou que existia uma outra forma de cantar e de tocar guitarra, muito diferente de tudo o que fora feito até então. Cinquenta anos depois, o estilo que reinventou a música brasileira está mais vivo que nunca. Que o diga Luanda Cozetti, vocalista dos Couple Coffee, banda que recentemente gravou “Young and Lovely”, um disco em homenagem ao meio século do estilo do “amor, do sorriso e da flor”.

“Todo o mundo relaxou quando a Bossa Nova surgiu”, explica Luanda Cozetti que, com o baixista Norton Daiello - ela de Brasília e ele de Rio Grande do Sul, no Brasil - formou os Couple Coffee em 2005. Entre os três temas que constituem a Bossa Nova - o amor, o sorriso e a flor - o amor foi o o escolhido por Luanda e Daiello para este seu trabalho: “O nosso álbum fala do amor, das várias formas de falar em amor”, conta a vocalista ao PÚBLICO.

Composto por 18 temas de compositores como Vinicius de Moraes, Ronaldo Boscoli e Carlos Vida, o álbum constitui uma homenagem ao tema interpretado por Tom Jobim , “Garota de Ipanema” , “e tudo o que ela personifica, a eterna juventude, a vida, o sol, a regeneração”, explica a vocalista.

"O Bossa Nova nasceu sem querer"

O estilo, que surgiu pelos versos de Moraes e pela voz de Tom Jobim, é hoje, mais do que uma referência cultural do Brasil, uma nova forma de fazer música. "Mas o que mais suscita a piada na história do Bossa Nova, é o facto de o estilo ter nascido sem querer”, explica a vocalista. “Eles não sabiam o que estavam a fazer, sabiam que estavam a tocar de uma forma diferente da anterior, mas sem ter planeado isso”.

Se do improviso e do espírito criativo comum aos brasileiros, nascia o ritmo, foi com o crescimento económico e cultural brasileiro que a Bossa Nova cresceu, evoluiu, para se transformar no género musical da geração de 60 e 70 : “Quando João Gilberto cantou 'Chega de Saudade' ele quis fazer algo de novo. O novo estilo representou uma cisão com o passado. A música anterior brasileira era muito triste, a juventude não tinha uma forma de expressão”.

A Bossa Nova transformou-se assim num movimento de uma nova geração. Associado ao Rio de Janeiro, o ritmo sincopado espalhou as suas vozes adocicadas por Copacabana e Ipanema, até se constituir uma verdadeira revolução cultural no Brasil.

“Se Zeca Afonso fosse brasileiro seria compositor de Bossa Nova”

“A Bossa Nova é o Maio de 68, são os hippies...e é também a ditadura”. Filha de dois ex-presos políticos da ditadura brasileira (1964-1985), Luanda não esconde a inspiração primeira que recebeu do compositor português Zeca Afonso, que em vida dedicou uma canção ao pai da cantora, Alípio Freitas. “Zeca Afonso é o melhor compositor português e um dos melhores do mundo”. Essa enorme admiração pelo cantor e compositor português, levou os “Couple Coffee a dedicar-lhe o seu segundo CD, intitulado “Com as tamanquinhas de Zeca”.

Habituada a ouvir Zeca Afonso desde criança, Luanda diz ter “crescido com a sua música e as magníficas misturas de música africana e portuguesa”. O que mais encantou na cantora de origem brasileira foram as metamorfoses musicais do compositor: “O Zeca pegava na música e transformava-a. Se Zeca Afonso fosse brasileiro seria compositor de Bossa Nova."

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