Escola de Famalicão confisca telemóveis há dois anos para manter ordem nas salas

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A discussão sobre o uso de telemóveisganhou contornos nacionais depois do caso na escola Carolina Michaëlis DR

Uma escola de Famalicão confisca, desde há dois anos, todos telemóveis visíveis nas salas de aula e só os devolve aos encarregados de educação. O estabelecimento defende que esta é uma forma de evitar perturbações, mas também de levar os pais à escola para saberem dos filhos.

"Há dois anos, o conselho executivo decidiu confiscar todos os telemóveis, ligados ou não, que estivessem visíveis dentro das salas de aulas", contou o presidente do conselho executivo da Escola Secundária Padre Benjamim Salgado, em Joane, Vila Nova de Famalicão. Os telefones "confiscados" só são devolvidos aos encarregados de educação "após uma conversa com o director de turma", disse Alfredo Mendes. "Desde o final do segundo período que continuam confiscados na escola cinco telemóveis, à espera que os encarregados de educação os venham buscar", acrescentou o responsável.

No início do ano lectivo, todos os alunos levam para casa um documento onde constam os contactos da escola e onde os pais e encarregados de educação são informados de que de tiverem qualquer assunto urgente a revolver com os estudantes, devem ligar para os telefones fixos da escola. "Quando os pais telefonam para falar com os filhos, um funcionário vai chamar o aluno e conversam à vontade. De resto, também os alunos podem usar o telefone da escola para falar com os pais", disse Alfredo Mendes.

"Os alunos e os professores sabem que, em cima das mesas, só pode estar material escolar e um telemóvel não faz parte da lista de material necessário à sala de aula", referiu o responsável. Os telemóveis, depois de "confiscados", são entregues aos directores de turma. "Assim, quando os pais ou encarregados de educação vêm à escola buscar o telemóvel, falam com o director de turma e ficam a saber sobre o aproveitamento escolar e o comportamento dos estudantes", disse a mesma fonte. "Acaba por ser uma forma de trazer os pais à escola", referiu.

Muitos pais em desacordo

A decisão de retirar os telemóveis aos alunos não foi pacífica e motivou protestos por parte dos estudantes e dos encarregados de educação. "Ainda hoje não consigo perceber que mal é que tem um aluno usar o telemóvel para, por exemplo, ver as horas ou mandar uma mensagem aos pais a pedir para o ir buscar mais cedo", disse o pai de uma estudante do 10º ano. "Não acho bem que se telefone nem que se oiça música durante as aulas, mas não vejo mal nenhum no facto de uma adolescente ter um telemóvel", salientou.


A discussão sobre o uso de telemóveis durante as aulas ganhou contornos nacionais depois de um vídeo onde uma aluna e uma professora da escola Carolina Michaëlis, no Porto, disputam um telefone ter sido posto a circular no Youtube.

Na Escola Secundária Padre Benjamim Salgado, no mês de Março, durante um teste, foram confiscados dois telemóveis. No entanto, o número de "infracções" é cada vez menor.

Com cada vez menos telemóveis "confiscados", o presidente do conselho executivo lamenta sobretudo a atitude de alguns pais. "Os alunos mais novos são os que mais tentam desrespeitar as regras da escola e, em alguns casos, os telemóveis são apreendidos e, dez minutos depois, já cá estão os pais para os levantar e para criticar o facto dos professores terem retirado os telemóveis aos filhos", exemplifica.

Localizada no centro do Vale do Ave, onde o desemprego ronda os 14 por cento, e "numa zona onde oficialmente há muita pobreza", Alfredo Mendes estranha ainda o "número e a elevada qualidade" dos telemóveis usados pelos cerca de 1300 alunos que frequentam o estabelecimento de ensino.

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