Hercules and Love Affair

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Não deixa de ser irónico constatar que a música "disco", uma das mais incompreendidas de sempre, continua a ser alvo de sucessivas vagas de reincarnação. Metro Area, Kelley Polar, Lindstrom & Prins Thomas ou Studio são apenas alguns dos nomes que, nos anos mais recentes, pegaram de maneira diversa em propriedades "disco", atribuindo-lhe novas qualidades. Agora é Andrew Butler, natural de Denver, Colorado, mas a viver nos últimos anos em Brooklyn, Nova Iorque, que propõe uma nova abordagem sobre o género, na companhia vocal de Antony (& The Johnsons), Kim Ann Foxmann e Nomi.

Mas atenção: os Hercules and Love Affair são tanto "disco" como os Massive Attack são hip-hop ou Burial é dub. No seu caso trata-se de partir das premissas mais autênticas do "disco", antes do género se ter transformado na "Febre de Sábado à Noite" de toda a gente, e vivia circunscrito aos clubes "gay". Aquilo que nos é dado a ouvir são programações rítmicas a velocidade moderada, inspiradas no "disco" e nas sonoridades house dos primórdios, marcadas por texturas expansivas, orquestrações sem rímel e vozes que erguem ambiências emocionais, mais evocativas que hedonistas. A co-produção é de Tim Goldsworthy, parceiro de James Murphy (LCD Soundystem) na editora DFA, e isso pressente-se na qualidade orgânica do som e na forma como as canções se prolongam sem perderem o centro. É impossível não pensar na obra do já falecido Arthur Russell, que tem vindo a ser redescoberta. Tal como para ele, também para Andrew Butler, o "disco" é apenas um imaginário ou, se quisermos, um ponto de partida para a feitura de canções onde prevalecem melodias expansivas, tonalidades harmónicas que tomam conta lentamente do espaço e vozes que expõem vulnerabilidade. Hércules, afinal, era um herói afectuoso.

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