É uma entrada, não o prato principal

É a nova animação digital dos estúdios Blue Sky - autores dos fenomenalmente populares filmes de "A Idade do Gelo" e do menos conhecido mas bem interessante "Robôs" - e é um novo prodígio de invenção visual cartoonesca, aqui aplicada a um dos contos do falecido Dr. Seuss (Theodore Geisel), referência incontornável na literatura infantil americana até aqui mal servida pelo cinema.

Ahistória de um elefante despassaradoque descobre existir uma populaçãode seres microscópicos, os Quem, nointerior de um grão de poeira (e dopresidente da Câmara de Quem Vilaque descobre que o seu mundo é umgrão de poeira), parece feita à medidapara o delírio criativo da equipa dosestúdios de Chris Wedge, que aquipassa até por um hilariante interlúdiooriental-manga em duas dimensões,por uma homenagem às ilustraçõesoriginais de Seuss e por um semnúmerode geringonças rebuscadasdeslumbrantementepormenorizadas. Mas a metáforaoriginal do conto - uma alegoriasobre a diferença e a tolerância, comHorton e o Presidente da Câmaraforçados a convencer os "descrentes"de que não estão passados doscarretos - ganha um subtexto curiosoquando Horton tem de enfrentar a"maioria moral" encabeçada pelasisuda Sra. Canguru, que acusa obem-intencionado elefante desubverter os padrões éticos e moraisvigentes na selva (qualquersemelhança com os "values voters"da América profunda não nos pareceser pura coincidência...) enquanto osQuem enfrentam o apocalipse bíblicodo seu universo.

Dito isto, "Horton e o Mundo dosQuem" explica ao mesmo tempoporque é que a Blue Sky não fica nadaatrás da Pixar e porque é que não lhechega aos calcanhares: porque a suaanimação é tecnica e criativamentetão extraordinária como a da Pixar,mas não é acompanhada pelainspiração dos argumentos,sistematicamente mais convencionaise menos burilados. É também issoque minimiza "Horton", apesar do"casting" inspirado das vozes daversão original ( Jim Carrey, CarolBurnett e toda a "escola" da novacomédia americana - Steve Carell,Seth Rogen, Will Arnett, AmyPoehler, Isla Fisher) - há sempre asensação que a história é insuficientepara sustentar a invenção dasimagens. É um óptimo divertimentopara toda a família, mas enquanto,por exemplo, "Ratatui" era um pratodelicioso, "Horton" nunca passa deuma entrada que enche o olho.

Sugerir correcção
Comentar