Obesidade: Especialista preocupado com aumento da doença em Portugal, em especial nas crianças

Foto
A distribuição da gordura corporal é um factor muito importante Manuel Roberto/PÚBLICO (arquivo)

O presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM), José Luís Medina, defendeu hoje, no Porto, ser urgente que Portugal adopte medidas de saúde pública "agressivas" para combater a obesidade. O médico defende que estamos perante uma situação grave e em crescimento, pelo que se deve apostar na sensibilização das camadas mais jovens da população.

Os resultados do Estudo da Prevalência da Obesidade em Portugal serão apresentados na sexta-feira no IX Congresso Português de Endocrinologia, que começa amanhã em Lisboa e termina domingo. De acordo com José Luís Medina os dados corroboram a sua preocupação.

O especialista, também director do serviço de Endocrinologia do Hospital de S. João, no Porto, afirmou que os dados do trabalho liderado pela investigadora Isabel do Carmo revelam aquilo que "se anda a pregar há muito tempo: a obesidade continua a aumentar".

Conforme adiantou, o estudo (no qual participou como co-autor) desenvolveu-se entre 2003 e 2005 e envolveu 8116 pessoas, dos 18 aos 64 anos. Nesta amostra, a investigação encontrou 2,4 por cento de pessoas com peso a menos (pessoas magras com risco de contrair doenças como a anorexia nervosa), 39,4 por cento com sobrecarga de peso - com Índice de Massa Corporal (IMC) superior a 25 - e 14,2 por cento com obesidade (IMC igual ou superior a 30).

A obesidade - resultante da acumulação excessiva de tecido gordo no corpo - é um dos principais factores de risco para o desenvolvimento de doenças que afectam milhões de pessoas, nomeadamente a hipertensão, diabetes, doença coronária ou acidente vascular cerebral.

"A obesidade é um problema de saúde pública", frisou José Luís Medina, explicando que se trata de uma doença de "altíssima prevalência" e com possibilidades de cura "muito reduzidas".

Gordura intra-abdominal é a mais perigosa

De acordo com o especialista, um dos aspectos importantes do estudo é o facto de ter sido dada atenção à distribuição da gordura corporal, já que em termos de risco cardio-vascular é importante avaliar a existência de gordura intra-abdominal.


Pela classificação da Federação Internacional de Diabetes, com o perímetro da cintura superior ou igual a 94 centímetros para os homens e 80 para as mulheres, associado a dois dos seguintes factores: diabetes, hipertensão arterial, triglicerídeos elevados e hdl (colesterol bom) baixo, existe alto risco para doença cardiovascular.

"Este estudo encontrou 45,6 por cento das pessoas com um aumento do perímetro da cintura o que é de facto surpreendente", adiantou. "Isto não pára. São precisas medidas de saúde pública muito agressivas em termos de persistência e muito trabalho, para esclarecer as pessoas, as famílias, as escolas e as empresas", sublinhou José Luís Medina, que sente que a população está pouco esclarecida sobre a alimentação.

"Tem que se mudar as mentalidades e a própria cultura, acabar com a ingestão de gorduras, de álcool, com o assado de domingo, os rissóis e o pão com manteiga à entrada das refeições. Tem que se mudar", avisou.

Para o especialista, é sobretudo importante que as escolas e as cantinas ensinem e dêem comida saudável às crianças. "Não podem ter doçaria. Não quer dizer que as crianças não possam comer, o que não podem é fazê-lo com a frequência que o fazem", reiterou. "Começamos a ter crianças com diabetes de tipo 2, tradicionalmente uma diabetes do adulto, precisamente pela relação entre a diabetes e a obesidade", exemplificou.

Conjugar o incentivo à actividade física com a adopção de uma alimentação equilibrada e pobre em calorias é um ponto essencial, assim como "desincentivar o uso excessivo do carro, comer melhor, fazer mais exercício e andar a pé. O elevador é para subir não é para descer", aconselhou o especialista, referindo que as crianças poderão ser veículos importantes nesta matéria de educação alimentar.

Sugerir correcção
Comentar