2 Dias em Paris

É uma proposta de "cinema de bolso" de Julie Delpy - uma colecção de instantâneos, leve, para pôr debaixo do braço. Saída do díptico de culto "Antes do Amanhecer"/ "Antes do Anoitecer", de Richard Linklater, de que Delpy foi actriz mas também colaboradora na escrita do argumento, a actriz/ realizadora permanece dentro do espírito: a tagarelice como hipótese agregadora no meio do caos dos sentimentos. Não consegue a proeza de dar a ilusão de um filme "ao vivo" como dava "Antes do Anoitecer", que era um "tour de force", parecia decorrer sem cortes, no tempo de um passeio por Paris.

Mas Delpy faz por sublinhar a sua "persona": avança na sexualidade (é um universo mais agressivo do que o de Linklater) e recua no romantismo. Um híbrido cultural - é francesa e é também americana -, Delpy põe os óculos de cepticismo de Woody Allen (os diálogos põem também esses óculos), assume-se um "clown" no feminino, junta à mistura a deambulação sentimental e cultural da "nouvelle vague", algo que já estava no díptico de Linklater, e rodeia-se de familiares e ex-amantes para fazer passar a sua mensagem: o amor não é para sempre. É verdade que o filme não se aguenta sem mácula: em vez de o deixar desaguar, Delpy precipita-se e força o resultado. Mas com tanta comédia romântica que parece ter sido feita sem que estivesse alguém atrás da câmara de filmar, porque não uma anticomédia romântica imperfeita como tudo aquilo que não é formatado por uma máquina?

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