Madeireiras lusas trocam açúcar, sal e cerveja por exploração das florestas do Congo, diz "Visão"

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Existem mais de 50 áreas de exploração de madeira em zonas de conservação prioritária no Congo Enric Vives Rubio/PÚBLICO (arquivo)

Empresas madeireiras de portugueses trocam açúcar, sal e cerveja por direitos sobre vastas áreas de floresta do Congo, explorando actualmente o equivalente a metade do continente português, noticia a revista “Visão” na edição de amanhã. A Greenpeace denuncia o que diz serem contratos imorais com as populações locais.

Em causa, segundo revela a organização internacional Greenpeace, estão quatro empresas de portugueses radicadas na República Democrática do Congo: Sodefor, Soforma, Forabola e CFT, subsidiárias da holding NST sedeada no paraíso fiscal do Liechtenstein, dos irmãos José Albano e João Manuel Maia Trindade.

Documentos facultados pela Greenpeace à revista revelam que as quatro empresas obtiveram nos últimos cinco anos concessões para explorar a floresta, apesar de existir uma moratória do Banco Mundial.

Um dos documentos é um contrato elaborado pela empresa Sodefor para ser assinado pelos chefes de aldeia responsáveis pelas florestas Eyongo e Elona, no qual se determina a oferta de dois sacos de sal, 18 barras de sabão, quatro pacotes de café, 24 garrafas de cerveja e dois pacotes de açúcar.

A Sodefor - que exporta madeira para Portugal, e outros países da Europa e Estados Unidos - oferece também aos chefes da aldeia um prémio de 60 francos congoleses (oito cêntimos de euro) por cada metro cúbico de madeira exportada.

Em troca, as aldeias cedem as suas florestas e os chefes assumem a responsabilidade de prevenir e impedir manifestações da população.

Populações locais sem apoio

De acordo com a Greenpeace, estas concessões para 30 anos são asseguradas sem que os aldeões tenham qualquer tipo de apoio jurídico ou alguém que lhes explique o real valor das suas árvores, que no mercado chegam a ultrapassar os cinco mil euros cada uma.

Além de considerar imoral a realização de contratos como este, a Greenpeace acusa as quatro empresas portuguesas de trabalharem ilegalmente, uma vez que existe desde Maio de 2002 uma moratória do Banco Mundial que impede novas concessões para travar a exploração selvagem das florestas.

José Albano Trindade, em declarações à “Visão”, defende que a Greenpeace deturpou as conclusões e justifica a troca de "presentes" (sal, açúcar) pela promessa dos chefes das aldeias de prevenirem barricadas contra as empresas.

O gerente estatutário da Sodefor contesta também a alegada violação da moratória do Banco Mundial que diz ter sido publicada depois de obtidas as concessões.

A floresta tropical do Congo é a segunda maior do mundo, depois da Amazónia, e tem mais de 50 áreas de exploração de madeira em zonas consideradas de conservação prioritária.

A Greenpeace alerta para o contributo da indústria da madeira para o efeito de estufa, estimando que a desflorestação do Congo provoque a emissão de 34,4 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono até 2050, o equivalente ao que Portugal lançará para a atmosfera nos próximos 420 anos.

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