Rival de Chirac à conquista do Eliseu

O ministro francês do Interior prepara-se para ser aclamado pelos 50 mil militantes da UMP como o candidato da direita que nas presidenciais deste ano enfrentará a socialista Ségolène Royal. Mas os adversários de Sarko, conhecido pela dureza do seu discurso, não estão apenas na esquerda - também os há nas fileiras do seu partido

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Sarko procura hoje a aclamação Melanie Frey/EPA

Hoje, quando se apresentar perante uma multidão, na Expo de Paris, para ser "coroado" candidato da União para um Movimento Popular (UMP, conservadores) à Presidência da República Francesa, Nicolas Sarkozy terá visto terminar uma semana cheia de lutas internas e farpas lançadas entre os seus colegas de partido.

O actual ministro do Interior, que descreveu jovens dos subúrbios como "racaille" (escumalha), está numa guerra mais ou menos aberta com o actual chefe de Estado, Jacques Chirac, e com o primeiro-ministro, Dominique de Villepin, todos da UMP. No entanto, Sarko foi o único candidato nas primárias do partido - se Chirac ou Villepin ainda considerarem concorrer, terão de o fazer como independentes.

As primárias foram marcadas pela possibilidade de votar pela Internet. Durante dez dias, os membros da UMP puderam dizer se queriam Sarkozy como candidato. A eleição culmina hoje com o congresso extraordinário em que se esperam 500 mil pessoas - e em que foram gastos mais de 3,5 milhões de euros, segundo o semanário Nouvel Observateur.

"Se a França for feliz, as vossas famílias também serão"

Villepin afirmou publicamente que não iria votar em Sarkozy, o que resultou numa reunião especialmente tempestuosa do partido na semana passada, com deputados da UMP a gritar-lhe: "Vai ser eleito!" (Villepin sucedeu a Jean-Pierre Raffarin na chefia do Governo, não tendo ido a votos).

Sarkozy, por seu turno, tentou centrar o apoio dos conservadores citando o perigo de Jean-Marie Le Pen, em terceiro lugar nas sondagens: "Hoje pode ser o primeiro dia da nossa vitória ou da nossa derrota", afirmou, salientando que uma divisão da UMP pode levar alguns eleitores para o campo do líder da Frente Nacional (extrema-direita).

O titular da pasta do Interior, que deverá ter como lema de campanha "tudo será possível com Nicolas Sarkozy", também contribuiu para a luta interna apresentando os seus números em frente ao seu ministério na mesma altura em que Chirac fazia o seu tradicional discurso de Novo Ano aos jornalistas. Manifestou-se mesmo contra alguns aspectos do plano, anunciado recentemente pelo Presidente e primeiro-ministro, de tornar a habitação um direito jurídico que o Estado tem de dar aos cidadãos,

Sarkozy foi o protegido de Chirac (teve até, lembra o jornal britânico The Observer, um breve romance com a filha do Presidente) mas caiu em desgraça ao apoiar um rival, Edouard Balladour, para a chefia do Estado em 1995. Diz-se que, depois disso, Chirac não falou com Sarkozy durante três anos.

"Vamos fazer com se vejam livres desta escumalha"

(numa visita ao subúrbio de Argenteuil, Paris)

Nicolas Sarkozy é filho de um imigrante húngaro, aristocrata que fugiu do comunismo nos anos 1940. A mãe tem origem greco-judaica. O rival de Chirac distingue-se por ser advogado de profissão num país onde a elite política passou pela École Nationale d"Administration. Além de influências anglo-saxónicas, Sarko também não bebe álcool, o que é um "pecado" para muitos num país famoso pelos seus vinhos.

Uma das inspirações políticas do candidato da direita francesa ao Eliseu é Tony Blair, o primeiro-ministro britânico, disse à BBC o seu biógrafo Nicolas Domenach. Os socialistas que apoiam Ségolène Royal, a sua adversária, preferem classificá-lo como "neoconservador americano com passaporte francês", o que levou a UMP a acusar o PSF de xenofobia.

O polémico Sarkozy, que aos 28 anos foi o mais novo presidente de uma câmara municipal em França (no subúrbio chique de Neuilly), defende que os franceses falem mais inglês, segundo a BBC. Na sua opinião, a arrogância é um defeito de que padecem muitos dos seus compatriotas. Mas Sarkozy também não é modesto. Inquirido por um jornalista se pensava ser Presidente enquanto se barbeava, respondeu: "Sim, e não só quando faço a barba".

"Quero acabar com a ideia de que se pode trabalhar menos e ganhar mais, que se pode deixar entrar toda a gente e ainda assim integrá-los decentemente"

Apesar de ser um atlantista, Sarkozy manifestou-se, porém, contra a guerra no Iraque e ainda recentemente publicou um artigo no diário Le Monde indignando-se com a execução de Saddam Hussein.

O ministro do Interior consegue defender a deportação de imigrantes que transgridam a lei - mesmo que tenham autorização de residência - ao mesmo tempo apregoa a discriminação positiva para os jovens imigrantes.

As sondagens mostram Sarkozy e Ségolène Royal muito próximos: na última tinham apenas um ponto de diferença, Sarko com 33 por cento dos votos, Ségo com 32. Isto num cenário em que passem os dois à segunda volta.

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