Furacão Katrina: a maior operação de reconstrução da história dos EUA

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Existirão actualmente 171 mil residentes em Nova Orleães, ou seja, a população da cidade continua reduzida a 35 por cento do total EPA (arquivo)

Um ano depois da passagem depois do furacão Katrina, qual é o ponto da situação do estado de Nova Orleães? Segundo o Katrina Index, compilado pela Brookings Institution de Washington, a cidade encontra-se simultaneamente em "reacção" e "estagnação".

Os resultados mais visíveis dos 109 mil milhões de dólares já gastos pelo governo federal na assistência às vítimas e na reparação da cidade concentram-se nas zonas mais favorecidas de Nova Orleães ou onde o impacto da tempestade foi menor. Antes do furacão, Nova Orleães ocupava o segundo lugar em termos de concentração de pobreza nas 50 maiores cidades americanas, e era de todo o país o local onde se encontravam as maiores disparidades económicas e raciais. Resta saber, como nota a Brookings, se o massivo investimento na região servirá para manter Nova Orleães como era - racialmente dividida, economicamente precária e estruturalmente vulnerável -, ou se, pelo contrário, resultará numa "versão melhorada" da cidade, mais próspera, sustentável e integrada.

População

De acordo com as últimas estimativas, baseadas na informação disponível no US Postal Service, existirão actualmente 171 mil residentes em Nova Orleães, ou seja, a população da cidade continua reduzida a 35 por cento do total declarado no último censo de 2000. Alargando a análise à área metropolitana de Nova Orleães, há razões para algum optimismo: antes do furacão, a zona registava 1 milhão e 35 mil residentes; actualmente existirão cerca de 900 mil.

Habitação

O Katrina provocou uma alteração profunda no mercado imobiliário de Nova Orleães: há muito menos habitação disponível, o preço médio das rendas subiu 39 por cento e a especulação, em especial nas paróquias mais suburbanas, quase duplicou o preço das moradias. As demolições e reconstrução das casas desfeitas pela inundação da cidade conheceram um significativo avanço nos últimos seis meses, à medida que os moradores foram decidindo se queriam voltar ou não e que a cidade estabeleceu os novos usos do solo nos diversos bairros. No entanto, algumas áreas residenciais, como por exemplo a devastadíssima Lower 9th Ward continuam praticamente desertas.

Infraestruturas e Serviços Públicos

A recuperação das infraestruturas e serviços tem sido muito lenta: o fornecimento de electricidade foi retomado em 60 por cento da cidade; o gás atinge apenas 41 por cento. A rede de saneamento continua em obras, assim como todo o sistema de protecção constituído pelos diques e estações de bombagem da cidade. A rede de transportes públicos continua muito incipiente, com menos de metade das linhas e rotas a funcionar.

Emprego

A força laboral na área metropolitana de Nova Orleães é hoje 30 por cento inferior ao que era antes da passagem do Katrina, e o emprego é um dos indicadores que tem demonstrado um crescimento mais lento. No último ano, a região perdeu mais de 190 mil trabalhadores, uma grande parte dos quais dos sectores da saúde e educação. Nos últimos seis meses, verificou-se um aumento de 3,4 por cento no emprego, mas a actual taxa de desemprego, de 7,2 por cento, continua a ser maior do que em Agosto de 2005. Segundo as estimativas oficiais, cerca de 23 por cento dos mais 278 mil trabalhadores que continuam deslocados estarão no desemprego.

Educação

Nas quatro grandes universidades de Nova Orleães, a vida académica já decorre o mais próximo possível da normalidade. Alguns edifícios permanecem fechados ao público enquanto decorrem trabalhos de reparação e muitos gabinetes funcionam ainda em unidades pre-fabricadas, mas 90 por cento da população universitária está de volta à cidade. Mas o ensino primário e secundário públicos estão numa situação deplorável. Em Maio, em St. Bernard, Orleans e Plaquemines, o número de escolas em funcionamento era de sete por cento, 21 por cento e 33 por cento, respectivamente.

Saúde

Outro dos sectores onde a situação actual ainda reflecte o caos pós-Katrina é a saúde. Apenas 20 dos 38 hospitais que serviam a cidade estão operacionais. Até agora, nenhum dos dois hospitais da paróquia de St. Bernard foi reaberto e a paróquia de Orleans só recuperou 36 por cento da sua capacidade. Os serviços públicos de saúde mental continuam encerrados.

Turismo

No Quarteirão Francês, o coração turístico da cidade e também a zona mais protegida da fúria do Katrina, mais de 90 por cento dos hotéis, lojas e restaurantes estão a funcionar sem problemas. A catedral de St. Louis, os principais museus e o jardim zoológico foram reabertos; os eléctricos turísticos em Canal Street e Riverfront estão em circulação. O Centro de Convenções deve retomar o funcionamento normal em Novembro, e o Superdome vai acolher a nova época de futebol americano, já no próximo mês.

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