Casa Pia: jornalista Felícia Cabrita diz que foi alertada por Pedro Namora

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A jornalista Felícia Cabrita, que em 2002 revelou o escândalo sobre abuso sexual de menores na Casa Pia numa reportagem publicada no semanário "Expresso", disse hoje que foi alertada pela primeira vez para a existência daqueles casos pelo ex-aluno Pedro Namora.

Ouvida hoje no Tribunal de Santa Clara, em Lisboa, a jornalista referiu que a investigação jornalística foi desencadeada por um telefonema do advogado e ex-aluno casapiano Pedro Namora, que durante vários anos denunciou alegados abusos sexuais cometidos por Carlos Silvino da Silva ("Bibi"), o principal arguido do processo.

Segundo a jornalista, foi Pedro Namora quem a informou de que um aluno da instituição (Joel) tinha sido abusado por "Bibi", um caso que estava a ser investigado pela Polícia Judiciária (PJ) e que tinha suscitado a abertura de um inquérito disciplinar contra o então motorista da instituição.

Felícia Cabrita, que se definiu como "jornalista de investigação", afirmou ter confirmado com a mãe de "Joel" a história relatada por Pedro Namora, tendo sido nessa altura que teve acesso a uma cassete de gravação em que surge "Bibi" a ter conversas "de conteúdo pedófilo" com o jovem em causa.

Importante para o desenvolvimento do seu trabalho foi também toda a documentação fornecida pelo mestre de relojoaria da Casa Pia, Américo Henriques, professor que desde 1975 vinha denunciando aos dirigentes da instituição e à PJ a existência de abusos sexuais a jovens casapianos, afirmou.

A testemunha considerou ainda determinante a conversa telefónica que manteve com a ex-secretária de Estado da Família, Teresa Costa Macedo, pois foi ela que lhe deu "a noção de que o problema não podia estar só centrado em Carlos Silvino e que não se trataria apenas de um único crime recente".

Na versão de Felícia Cabrita, terá sido Teresa Costa Macedo a dar-lhe a verdadeira dimensão do problema, uma vez que não eram apenas funcionários envolvidos, mas também "muita gente que durante anos recorria à Casa Pia" para manter encontros sexuais com os jovens alunos.

A jornalista disse ter ainda entrevistado o então provedor da instituição, Luís Rebelo, numa sessão em que também estiveram presentes os provedores adjuntos da altura, Manuel Abrantes (constituído arguido neste processo) e Videira Barreto.

Relativamente a Carlos Silvino, Luís Rebelo tê-la-á informado de que o então motorista enfrentava um processo disciplinar, apesar de ter dito na altura que "Bibi" era um "excelente funcionário e que até acompanhava o seu filho".

Quanto aos ex-alunos da Casa Pia com quem contactou, além das referências que estes faziam a "Bibi", Felícia Cabrita referiu que um deles mencionou igualmente os nomes do apresentador de televisão Carlos Cruz, do médico João Ferreira Diniz e do embaixador Jorge Ritto, todos constituídos arguidos neste processo.

Um desses ex-alunos, que estava a cumprir pena de prisão, foi a primeira pessoa a falar à jornalista da existência de filmes de conteúdo pedófilo, tendo-lhe dito ainda que Carlos Cruz participava em festas onde havia "orgias" com homens e mulheres.

Confrontada pelo procurador João Aibéu para indicar em que casa ou local teriam ocorrido as referidas festas, Felícia Cabrita não soube precisar, nem conseguiu confirmar o que lhe foi dito na altura pelo ex-aluno da Casa Pia.

Outra das testemunhas teria também comunicado à jornalista que viveu em casa de Jorge Ritto, quando este residia em Paris e desempenhava o cargo de embaixador junto das Nações Unidas, tendo-lhe contado igualmente que já era maior de idade quando manteve "contactos recíprocos" com o médico João Ferreira Diniz.

Acerca de Carlos Cruz, esta testemunha do processo terá comunicado a Felícia Cabrita que o apresentador de televisão frequentava a casa de Ferreira Diniz.

Questionada sobre se esta testemunha por si entrevistada estabeleceu alguma relação entre os arguidos Carlos Cruz, Ferreira Diniz e Jorge Ritto, a jornalista limitou-se a dizer: "Não estou segura".

Já na parte final da sua audição, no período da manhã, Felícia Cabrita afirmou não conhecer nem nunca ter falado com nenhum dos inspectores da PJ envolvidos na investigação do processo Casa Pia.

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