Maria Madalena

Há um lado "velado", em "Maria Madalena", que talvez defraude as expectativas de quem esperaria, depois do Cristo de Scorsese, depois do Cristo de Mel Gibson e com o "Código Da Vinci", - e pensando na natureza inflamada do cinema do italo-americano Ferrara - algo a fazer-se escancaradamente ao "escândalo".

Na verdade, "Maria Madalena" coloca-se fora do vórtice mediático, preferindo fazer circular uma angústia secreta - a da descoberta da fé - num trio de personagens: Marie (Juliette Binoche), actriz que depois de interpretar Maria Madalena num filme largou tudo, carreira e vida privada, e partiu para uma viagem de descoberta espiritual em Jerusalém; Tony Childress (Matthew Modine), o realizador desse filme, "This Is My Blood"; Ted Younger (Forrest Whitaker), o apresentador de um programa que dedica uma semana a debater a religião. Há uma dialéctica em movimento, então, que vai depurando os materiais e o excesso, hierarquizando, e encaminhando-se (e encaminhando o espectador: este filme é de um didactismo que, à falta de melhor, temos de dizer ser rosselliniano) para uma espécie de revelação. É um filme sobre a fé como descoberta individual, sobre o despojamento pessoal - e é um filme completamente desarmado de Ferrara.

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