Primeira biografia de Natália Correia apresentada hoje em Lisboa

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A escritora morreu em 1993 DR

"A Senhora da Rosa", a primeira biografia de Natália Correia, escrita pela investigadora Maria Amélia Campos, é apresentada hoje em Lisboa, 14 anos depois da morte da escritora e poetisa, figura marcante da cultura portuguesa da segunda metade do século XX.

Em declarações à Lusa, Maria Amélia Campos afirmou ter chegado à autora de "A Pécora"(1983) através do estudo dos discursos das deputadas eleitas antes e depois do 25 de Abril de 1974, cuja investigação publicou em 2002.

"Apercebi-me de imediato de uma diferença notável entre o discurso da Natália e os das outras deputadas, o que levou a interessar-me pela sua vida, tanto mais que nunca privei com ela. Só conheci a Natália Correia como figura pública", explicou.

A biografia, editada pela Parceria A.M.Pereira, traça em 14 capítulos – "tal como as 14 estações da via sacra" – a vida da escritora, cuja obra é "mal conhecida e pouco estudada porque a figura da mulher se sobrepôs sempre à sua obra", argumenta a autora.

"Conhecíamos antes de mais a Natália Correia e as causas em que se empenhava, antes de conhecermos a sua obra ", acrescentou.

Para escrever "A senhora da rosa", Maria Amélia Campos pesquisou vários arquivos pessoais e ouviu testemunhos dos que conviveram mais de perto com a poetisa. Procurei cruzar as diferentes informações com as que a própria Natália dá ao longo da sua obra", explicou a autora.

Natural de São Miguel, onde nasceu em 1923, Natália vem estudar para Lisboa ainda criança, tendo-se iniciado cedo na literatura. Além da poesia a sua obra estende-se ao romance, ensaio e teatro. Entre os títulos publicados contam-se "Anoiteceu no bairro", "A Pécora", "Ilha de Circe, "O encoberto", "Erros meus, má fortuna, amor ardente", "Somos todos hispanos".

Opositora ao regime fascista, foi condenada em 1966 a três anos de pena suspensa pela publicação da “Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica”, considerada ofensiva aos costumes. Já em democracia, é eleita para o Parlamento em 1980, nas listas do PPD-PSD, onde se distingue pela defesa dos direitos humanos, das causas da mulher, da cultura e do património.

A televisão foi outro dos meios onde Natália Correia fez ouvir a sua voz e as suas ideias sobre a Cultura portuguesa, nomeadamente no programa "Mátria", transmitido pela RTP.

"A Senhora da Rosa", apresentada hoje na Sociedade Portuguesa de Autores, inclui em anexo vários documentos relativos ao percurso escolar de Natália, reproduz auto-retratos seus, bem como uma cronologia e lista de obras editadas. A autora inclui ainda um opúsculo onde propõe "um exercício eucarístico poético" a Natália Correia.

Maria Amélia Campos, licenciada em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade Nova de Lisboa, colaborou com o projecto "Genre et gestion locale du Changement dans sept pays de l´Union Européene" e é uma das autoras de "’crire l´histoire dês femmes en Europe du Sud “XIXe-XXe siècles" além de "As mulheres deputadas e o exercício do poder político representativo em Portugal".

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