Revolver

Antes de ser o marido de Madonna, Guy Ritchie veio insuflar uma lufada de ar fresco "very British" no filme de gangsters com o estupendo (e injustamente esquecido) "Um Mal Nunca Vem Só". Agora, caído em desgraça após o descalabro de "Ao Sabor das Ondas", o seu retorno, sob o alto patrocínio de Luc Besson, faz-se com uma variação Lynchiana, esquizofrénica e estilizada até à irrisão, sobre os códigos do "film noir" e do "heist movie", onde a vingança de um jogador saído da prisão o transforma em mero peão num complexo jogo que pode não existir senão na sua própria cabeça. Ritchie continua a ter um ouvido extraordinário, quase Runyonesco, para o diálogo, e filma com inegável segurança o fantasioso cenário de BD surreal em que escolheu localizar "Revólver". Mas tudo não passa de estilista a esticar-se sem rede para lá do que sabe, e o filme soçobra nessa ambição insustentada, deixando à mostra estilhaços fascinantes do que quis ser sem conseguir.

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