Anthony macguffin zimmer

Tal como George Kaplan, Anthony Zimmer parece não existir. Ninguém lhe conhece o rosto, ninguém o viu, ninguém sabe onde ele vive, o que ele faz, se esse é sequer o seu verdadeiro nome. Todos o procuram, da brigada fiscal que o quer apanhar pelas suas operações de branqueamento de dinheiro à mafia russa que quer calá-lo antes que revele demasiado do que sabe. Um relógio de luxo com o seu nome gravado no verso da caixa parece ser o único sinal da sua existência.

Anthony Zimmer é um MacGuffin elevado a personagem, tal como George Kaplan o era na "Intriga Internacional" de Hitchcock, matriz fundadora da estreia na longa-metragem do francês Jérôme Salle (apadrinhada por Olivier Delbosc e Marc Missonnier, produtores de François Ozon). "Anthony Zimmer" é uma variação reverente sobre "Intriga Internacional" cruzada com uns pózinhos de "Ladrão de Casaca", que tem a inteligência suficiente para se saber incapaz de atingir o nível do mestre mas a confiança necessária para que isso não funcione como um bloqueio criativo, sobre um zé-ninguém confundido com o criminoso internacional que dá nome ao filme, que dá por si perseguido pela Côte d"Azur por um polícia capaz de tudo para apanhar o seu homem e um mafioso igualmente determinado a não o deixar escapar.

Salle aprendeu bem a lição do mestre, eliminando tempos mortos e ejectando tudo o que é acessório (a coisa resolve-se em hora e meia certa, sem perder tempo com palha nem com intelectualismos de pacotilha, guardando as surpresas todas bem até ao fim), construindo esta história de espionagem como um permanente jogo de sedução na corda bamba à medida de dois actores com insuspeitos reservatórios de charme (uma incandescente Sophie Marceau, perfeita em "femme fatale", e um surpreendente Yvan Attal).

Elegante, desenvolto, económico, "Anthony Zimmer" é uma sala de espelhos em constante movimento onde tudo é encenação, entretenimento que sabe ser aéreo sem por isso ser oco, acessível sem ser bronco. Uma boa surpresa, sobretudo para uma cinematografia demasiado presa ao melodrama de autor e nem sempre capaz de recuperar os seus pergaminhos clássicos na feitura de cinema popular - seria pena que esta pequena aventura passasse despercebida.

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