Merkel e Schroeder querem grande coligação na Alemanha

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A CDU/CSU venceu as legislativas por uma estreita margem percentual e contará com 225 parlamentares no novo Bundestag EPA

Foi num registo amigável que Angela Merkel, presidente da CDU, e Gerhard Schroeder, chanceler cessante, descreveram ontem as duas horas e meia de "discussões exploratórias" entre democratas-cristãos e sociais-democratas com vista à constituição de uma "grande coligação" na Alemanha.

Este segundo encontro, que decorreu em Berlim, foi classificado pelas duas partes como "construtivo" , "útil", "sério" e "frutífero", mas não houve acordo sobre quem chefiará o Executivo, ambos reclamando ainda a chancelaria. Agendada está já uma terceira ronda de conversações, para 5 de Outubro, e nessa altura "será anunciado um calendário [onde se inscreverão os passos de eventuais negociações de coligação]", afirmou Franz Muentefering, presidente do SPD.

A reunião de ontem, na qual participaram cinco negociadores de cada um dos campos, centrou-se "nos conteúdos" de uma eventual governação conjunta" e sobre os "problemas mais urgentes do país", precisou Merkel, ou seja, a situação financeira da Alemanha, o Orçamento para 2006, a reforma do federalismo e o sistema de protecção social.

Do ponto de vista dos conservadores, acrescentou Merkel, as discussões vindouras devem "fazer coincidir a razão económica com os projectos de justiça social". Uma grande coligação não se deve limitar a "ser o mínimo denominador comum, mas deve dar grandes passos".

A grande questão de fundo que ainda separa conservadores e sociais-democratas - a da chefia do Governo - esteve ontem ausente da agenda. No entanto, à saída da reunião Gerhard Schroeder, que desde 18 de Setembro tem vindo a reclamar para si a revalidação do mandato de chanceler, afirmou: "É politicamente falso fazer ultimatos" - uma alusão à condição imposta pela direita de que Angela Merkel seja a nova chanceler da Alemanha - para dar início às negociações.

Tal como na véspera, num discurso feito no Parlamento Europeu, Schroeder evitou mencionar o seu próprio papel no futuro Executivo, reiterando a convicção de que, "na Alemanha, se formará um Governo estável sob a forma de uma grande coligação".

Estas nuances no discurso têm alimentado as especulações de que Schroeder poderá estar a preparar a retirada. Segundo o Sueddeutsche Zeitung, o SPD tencionará propor Franz Muentefering, o presidente do partido, como vice-chanceler, se a CDU estiver disposta a renunciar a Angela Merkel. Reagindo a esta notícia, a CDU, que tem demonstrado um inusitado cerrar de fileiras atrás da sua líder, respondeu pela voz do secretário-geral, Volker Kauder: "Só haverá uma grande coligacão com Angela Merkel como chanceler."

A CDU/CSU venceu as legislativas por uma estreita margem percentual e contará com 225 parlamentares no novo Bundestag, ou seja, mais três deputados do que os sociais-democratas, que dispõem de 222 mandatos. É esta maioria que fundamenta a posição da CDU/CSU de reclamar para si a indigitação do chefe de Governo.

As bancadas parlamentares ainda não se encontram integralmente formadas uma vez que há que aguardar pela votação em Dresden, no próximo domingo. O sufrágio na capital da Saxónia foi adiado em virtude do falecimento súbito de uma candidata directa do partido de extrema-direita NPD, entretanto substituída nas listas. Os resultados não alterarão o equilíbrio de forças no Bundestag, mas poderão ter um efeito psicológico na resolução do braço-de-ferro entre Schroeder e Merkel.

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