Um Tiro no Escuro

A vontade de indústria é aspiração legítima, mas para chegar aí é preciso ter saber industrial e isso é mais do que decorar clichés do filme de género e pô-los a rodar. Dito de outra forma: em "Um Tiro no Escuro" haverá um "thriller", é o que diz o título e é o que querem mostrar enquadramentos, adereços como pistolas, cenários como "boites", "bonecos" mal encarados que os actores vestem e alguns movimentos de câmara - quase sempre o mesmo "travelling" descendente - que mergulham para dizer: vem aí acção. Ah, conhecimento com alguns bons malandros e outros maus como as cobras, mas isto parecem reflexos de coisas já vistas na TV. Não ficamos a saber nada das personagens, nem nos interessamos por elas. (Será que o filme se interessou?) Não há actores que nos aliciem (o "par" Vanessa Machado/ Filipe Duarte não chega a existir; Miguel Borges e Ivo Canelas preenchem com tiques o vazio que lhes foi dado). Montouse "uma coisa" - um "thriller", segundo a pistola do cartaz - com peças já usadas.

Leonel Vieira foi o realizador de um interessante "Zona J" (crónica urbana à altura do qual nunca mais esteve) e mesmo a tentativa de super- produção chamada "A Selva" foi um fracasso interessante. O que é que foi "A Bomba"? Permanece uma incógnita. A perplexidade continua com "Um Tiro no Escuro".

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