Câmara aprova demolição do Hospital de Arroios

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Será construído um empreendimento de habitação e comércio, com perto de 150 apartamentos Rui Gaudêncio/PÚBLICO

A Câmara Municipal de Lisboa aprovou recentemente a demolição quase integral do antigo Hospital de Arroios, à Praça do Chile, onde uma empresa imobiliária do grupo Fibeira, de Armando Martins, irá construir um empreendimento de habitação e comércio, com perto de 150 apartamentos.

O projecto é da autoria do arquitecto Miguel Correia, que já antes assinara um projecto anterior indeferido pela câmara em Março de 2004, por não ter em conta a salvaguarda dos valores patrimoniais do imóvel - onde existia um antigo colégio conventual da Companhia de Jesus, que resistira ao terramoto de 1755.

"O projecto de arquitectura também já foi aprovado, com alterações. Actualmente, além da igreja [que dá para a Rua Quirino da Fonseca], é também mantido o claustro do antigo convento", disse ao PÚBLICO António Rosa de Carvalho, assessor da vereadora Eduarda Napoleão, responsável pelo licenciamento urbanístico.

Na versão inicial, o projecto previa a construção de vários blocos de edifícios, com alturas variáveis, uns com seis pisos, outros com sete pisos e um mais elevado, com oito pisos, no remate da fachada virada à Praça do Chile, além de três pisos subterrâneos destinados a estacionamento (com 437 lugares).

Na altura do indeferimento, Eduarda Napoleão baseara-se nas críticas feitas pelo Núcleo de Estudos do Património (NEP) da câmara, que considerava não haver justificação para a demolição do imóvel.

"A forma como esta intervenção foi encarada contraria os princípios básicos que devem nortear intervenções em áreas urbanas onde coexistem edifícios de várias épocas. Nada está fundamentado: parte-se para a demolição integral como se se tratasse de qualquer construção menor. Quem ler a memória descritiva pensa que se está a intervir num lote onde apenas existe uma igreja, que se transforma numa peça completamente descontextualizada", dizia o parecer do NEP, já que o templo era integrado nas novas edificações.

Câmara "tentou ao máximo qualificar o projecto"

O Núcleo de Estudos do Património recomendava que se mantivesse não só a igreja como o volume setecentista do antigo convento e, embora admitisse a sua remodelação interior, sustentava que devia ser preservado o pátio, as galerias e o sistema de corredores. No entender do NEP, só era admissível "demolir dois edifícios confinantes a norte da Praça do Chile e os corpos que haviam sido adossados ao convento nos anos 40/50 do século XX".

O promotor da obra, a imobiliária Imofrança, considerava, porém, difícil, senão impossível, acatar estas recomendações. "Aproveitar mais do que a igreja e os claustros é complicado", disse em Março de 2004 Vítor Reis, da Imofrança.

Ontem não foi possível apurar junto dos serviços camarários, ou do arquitecto Miguel Correia, se as recomendações do NEP foram acatadas e quais as alterações introduzidas no projecto, decorrentes da decisão de manter o claustro do antigo convento.

"A vereadora tentou ao máximo qualificar o projecto. Na parte que é virada para a Praça do Chile mantém-se a intervenção contemporânea", disse António Rosa de Carvalho.

Um alçado do que irá ser construído na Rua Quirino da Fonseca revela a manutenção do claustro, mas sobre ele é erguido um edifício que se eleva quatro pisos acima do topo dos arcos.

O PÚBLICO tentou ontem ouvir quer o autor do projecto, quer o promotor da obra, mas até ao fecho da edição nenhum deles esteve disponível para prestar esclarecimentos.

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