Vera Drake

Nos seus "filmes de época" (antes de "Vera Drake" houve o mal amado "Topsy Turvy") Leigh tira o tapete aos que chegam armados com um arsenal de ideias sobre o "realismo britânico".

De tal forma que ficamos baralhados quando deparamos com um trabalho operático sobre o décor e as figuras que o povoam (sacrilégio: "Topsy Turvy" não era um filme... "viscontiano"?) ou, no caso de "Vera Drake", um envolvimento especular que (mais sacrilégio...) nos põe na boca os nomes de Douglas Sirk ou quem trabalhou a partir dele, o Todd Haynes de "Longe do Paraíso". Tal como esses filmes, "Vera Drake" transporta a consciência de que o cinema é um espelho que refl ecte a imagem que gostamos de ter e a imagem que inadvertidamente se interpõe, como um fantasma. Há uma interferência permanente entre as duas, nunca uma sobreposição, e é isso - e o silêncio e a verdade que se espraia em murmúrios em "Vera Drake" - que resgatam o filme à cinefilia "pós-qualquer coisa" e o trazem para o presente, hoje. É a maior obra em cartaz.

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