Colômbia: Exército de Libertação Nacional rapta bispo

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O ELN acordou recentemente um cessar-fogo com o Governo colombiano Edwin Bustamante/EPA

O bispo da cidade colombiana de Yopal, Misael Vaca Ramirez, foi raptado ontem por guerrilheiros do Exército de Libertação Nacional (ELN, extrema-esquerda), anunciou hoje um padre daquela diocese, situada a 366 quilómetros a nordeste de Bogotá.

Os sequestradores identificaram-se como membros do ELN e afirmaram querer passar uma mensagem aos responsáveis religiosos, adiantou o padre.

Vaca Ramirez foi raptado cerca das oito da manhã de ontem na localidade de Morcote, onde se encontrava em missão pastoral na companhia de dois outros padres.

O sequestro é regularmente praticado pelas várias guerrilhas que se defrontam há quatro décadas na Colômbia. O ELN faz uso sistemático desta fonte de receitas, tendo ficado na memória o rapto colectivo de 200 fiéis civis em plena missa na Igreja de Maria, em Cali, em 1999, todos eles libertados a troco de chorudos resgates. Actividades como desvio de aviões, ataques bombistas e extorsão são (ou foram) também praticadas pelo ELN.

O ELN possui, no máximo, cinco mil homens armados, mas um número indefinido de apoiantes. De influência marxista e inspirado na revolução cubana e nos seus líderes Fidel Castro e Che Guevara, foi criado em 1965 e opera em várias zonas do país, nomeadamente na região petrolífera de Arauca (Nordeste, fronteira com a Venezuela).

Dirigido pelo padre espanhol Manuel Perez até à sua morte, em 1999, a guerrilha é hoje comandada por Nicolas Rodriguez ("Gabino").

Cuba é acusada de fornecer assistência médica e aconselhamento político aos guerrilheiros. O ELN aparece listado pela União Europeia e pelos EUA como organização terrorista.

No passado dia 4 de Junho, o ELN propôs ao Governo colombiano um cessar-fogo bilateral, que faz parte de um acordo humanitário que inclui uma amnistia para todos os seus activistas presos. Num comunicado, os dois principais comandantes do ELN disseram que estão "dispostos a trocar as armas de combate que lhes deu a guerra, pelas armas de debate que lhes oferece a democracia".

Um mediador mexicano, Andres Valencia, encontrou-se pela primeira vez, no passado dia 23 de Junho, o porta-voz do ELN, Francisco Galan, detido perto de Medellin.

A 1 de Julho, o Governo iniciou também negociações de paz com os grupos paramilitares da Colômbia, tendo como objectivo do poder obter a rendição dos cerca de 16 a 20 mil milicianos de extrema-direita até 31 de Dezembro de 2005.

Catorze comandantes paramilitares das Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC, extrema-direita) aceitaram dialogar com o poder durante um período de seis meses, eventualmente renovável. No enclave de 368 quilómetros quadrados erguido em Santa Fé de Ralito, encontram-se 400 milicianos do grupo, autorizados a conservarem as suas armas. Estes homens prometeram respeitar uma trégua enquanto durar o diálogo. Em troca, o Presidente Alvaro Uribe concedeu-lhes a suspensão provisória dos mandatos de captura lançados contra eles antes do cessar-fogo decretado pelas AUC a 1 de Dezembro de 2002.

A resultarem estes dois processos, as FARC, que fizeram sempre da extinção das AUC uma das condições para discutir a paz, ficariam sozinhas na guerra contra o Estado colombiano, que completou 40 anos em Maio.

A guerra civil colombiana, que opõe as AUC às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC, marxistas) e ao ELN, e todas elas ao Governo, já fez mais de 200 mil mortos desde 1964, registando-se uma média de três mil sequestros por ano.

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