Santana Lopes pede demissão do Comandante da Polícia Municipal de Lisboa

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O Intendente e o Martim Moniz foram considerados zonas inseguras pelo comandante Bruno Castanheira/PÚBLICO

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Santana Lopes, exigiu a demissão do Comandante da Polícia Municipal, Almeida Rodrigues, depois deste ter desaconselhado a realização de arraiais populares na Rua da Mouraria e Largo do Intendente por motivos xenófobos.

O gabinete da presidência da Câmara de Lisboa garante em comunicado que "mal tomou conhecimento" das declarações de Almeira Rodrigues, Santana Lopes "solicitou ao seu Chefe de Gabinete que o Comandante da Polícia Municipal (...) apresentasse a sua demissão".

Solicitado pela Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC) a emitir uma opinião sobre a instalação de arraiais populares na Rua da Mouraria (junto à capela da Sra da Saúde) e no Largo do Intendente, o subintendente José Almeida Rodrigues discordou da ideia, escrevendo que os "habituais frequentadores destas zonas são, actualmente, na sua grande maioria, de tez negra, toxicodependentes e pessoas que se prostituem". "Tais indivíduos - prosseguia na sua informação de 26 de Maio - trazem consigo e põem em prática os seus usos e costumes de origem, o que, julgo, terá trazido ainda mais promiscuidade àquela zona da cidade".

A decisão de Santana Lopes, garante a Câmara, foi tomada "sem precisar de opiniões ou exigências de ninguém, pois era uma consequência óbvia após ouvir" as declarações de Almeida Rodrigues. A organização cívica SOS Racismo viu ontem este parecer, confirmado ao PÚBLICO pelo seu autor, como a tradução da "mentalidade que existe nos serviços policiais portugueses (...) responsável pelo aumento das tensões sociais na Grande Lisboa".

José Falcão e Mamadou Bá, do SOS Racismo, emitiram ontem um comunicado onde afirmam que "a Câmara Municipal de Lisboa não pode permitir que um Comandante abertamente racista e xenófobo se mantenha à frente dos serviços da Polícia Municipal".

"Não tenho nada contra os arraiais ou contra qualquer raça. Tentei apenas descrever o tipo de pessoas que abunda no local, mas admito que possa não ter utilizado os termos mais correctos", disse o comandante da Polícia Municipal. "O nosso parecer foi negativo, como o da PSP, por nesta altura não dispormos de meios suficientes para festas que em princípio se alongam por 30 dias", disse ainda.

Hoje, Santana Lopes lembra que Almeida Rodrigues ingressou no quadro de comando da Polícia Municipal durante a anterior gestão camarária mas concede que "existem dias menos felizes, e não se pode ofender seja quem for no desempenho das suas funções". "Existem afirmações, mesmo que não seja essa a sua intenção, que constituem objectivamente faltas de respeito por valores e princípios intocáveis", acrescenta a Câmara Municipal, que ainda assim "reconhece o trabalho notável dos efectivos da Polícia Municipal e o empenho do Comandante Almeida Rodrigues na segurança da cidade de Lisboa" e indica que Santana Lopes "anunciará brevemente a nomeação de um novo Comandante ficando, entretanto, a instituição com todo o seu funcionamento assegurado".

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