Stress pós-traumático é a segunda doença psiquiátrica em Portugal

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A doença pode ser evitada se o assunto traumático for discutido PÚBLICO

Pelo menos um em cada doze portugueses já sofreu, em algum momento da sua vida, de stress pós-traumático. A doença psiquiátrica, geralmente associada aos ex-combatentes, é o segundo problema psíquico dos portugueses, só suplantado pela depressão, conclui um estudo hoje apresentado no Porto.

O psiquiatra Afonso de Albuquerque apresenta hoje numa palestra os resultados de um estudo sobre aquela perturbação, também conhecida como PTSD (Post-Traumatic Stress Disorder), que afecta entre 10 e 20 por cento das pessoas sujeitas ou testemunhas de eventos traumáticos como guerras, acidentes ou catástrofes.

O estudo conclui que esta é a segunda maior doença psiquiátrica dos portugueses a seguir à depressão. As entrevistas realizadas pelo perito permitiram concluir que cerca de 650 mil portugueses adultos já sofreram desta patologia, 440 mil dos quais estavam ainda a sofrê-la no momento em que foram entrevistados.

Segundo Afonso de Albuquerque, os números agora apresentados são semelhantes aos valores em outros países, registando-se uma "grande incidência" na população civil. O estudo revela que a situação traumática mais referida foi a de "morte violenta de familiar ou amigo" (29,3 por cento), seguindo-se "roubado ou assaltado" (22,7 por cento) e "testemunha de acidente grave ou morte" (22,2 por cento). Os ex-combatentes da guerra colonial são particularmente afectados, diz o psiquiatra, indicando que cerca de 57 mil sofrem da doença ainda hoje, 30 anos depois dos eventos.

As vítimas de violência sexual, sejam mulheres ou crianças, são também "seriamente afectadas" pela doença, bem como as testemunhas de atentados terroristas como o de 11 de Março em Madrid, diz o especialista. "Está provado que mesmo as pessoas que assistem a ataques terroristas pela televisão podem ficar sujeitas", sobretudo tratando-se de crianças ou adultos em situação de maior fragilidade psicológica, acrescenta.

Esta doença é muitas vezes crónica e em casos avançados pode levar à "incapacidade permanente para o trabalho" e ao suicídio, surgindo muitas vezes associada a outros problemas como o alcoolismo ou a doença cárdio-vascular.

O conselho do psiquiatra Afonso de Albuquerque é que quem viva situações traumáticas fale sobre o que se passou, seja com profissionais de saúde, familiares, amigos ou outras pessoas que tenham testemunhado o mesmo acontecimento.

Este estudo, realizado no ano passado, resultou de entrevistas a 2606 indivíduos, com uma distribuição equitativa por sexos e uma média etária de 43 anos, variando entre os 18 e os 99 anos.

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