"Pinhole", outra forma de estar na fotografia

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Uma câmara pinhole pode ser feita a partir de quase tudo o que se tenha em casa DR

O Clube dos Pinholeiros nasceu há quase dois anos, em Lisboa, por iniciativa de António Leal. Professor no Instituto Português de Fotografia (IPF), Leal tem vindo a divulgar a fotografia estenopeica em Portugal. Os membros do clube são alunos e ex-alunos do IPF e encontram-se regularmente para experimentarem as possibilidades do pinhole - tradução directa da palavra inglesa "pinhole", que designa uma câmara fotográfica rudimentar, em que a lente é substituída por um pequeno orifício.

O último encontro do clube realizou-se ontem de manhã, em Campo de Ourique, Lisboa. Caixas de madeira, latas, uma máquina fotográfica adaptada para pinhole e uma caixa construída em K-line foram os instrumentos utilizados.

Uma câmara pinhole pode ser feita a partir de quase tudo o que se tenha em casa (ver caixa). O princípio da fotografia estenopeica - designação científica do processo técnico do pinhole - é o da câmara escura, e vem dos primórdios da fotografia. A luz entra através de uma abertura e forma uma imagem invertida, sem necessidade de qualquer instrumento óptico, como a lente.

O resultado de uma fotografia pinhole nem sempre é perfeito, tecnicamente, mas pode ser bastante interessante em termos criativos. "Eu tento pôr os membros a pensar nas potencialidades do pinhole. Por exemplo, um dos trabalhos que propus foi trabalhar o movimento, neste caso, da água, porque o facto de o tempo de exposição ser longo dá um efeito de arrasto muito bonito", diz António Leal.

Alguma paciência pode ser necessária. Depois de cada fotografia, há que mudar a emulsão para tirar a próxima, num espaço que António Leal arranjou em Campo de Ourique expressamente para o efeito. Enquanto não chovia, houve que aproveitar a luz difusa do tempo coberto, ideal, porque evita os grandes contrastes, mais difíceis de controlar.

Os pinholeiros têm orgulho nas suas câmaras e entusiasmam-se com o acto de voltarem a pensar os princípios básicos da fotografia. Medem a luz, experimentam, por comparação com uma máquina fotográfica normal, as medições ideais, e cronometram o tempo - às vezes bastante longo - que a luz dura a entrar pelo buraco de agulha. "Tudo é feito por nós. Estou um bocadinho farto de tecnologia. E, depois de começar, isto é viciante", diz Luís Esteves, um dos pinholeiros. "Os resultados são imprevisíveis. Nunca se sabe o que sai". Porque por estas câmaras não se espreita para enquadrar.

"Agora, quando olho para uma lata, ou para qualquer coisa, penso 'vou furar isto'", diz Virgínia Soares a rir. Mas, através da Internet, podem-se encomendar câmaras pinhole muito variadas, e outro material para a fotografia estenopeica. Segundo António Leal, a Internet foi essencial para dar novo ânimo a esta prática fotográfica. Aí, os pinholeiros de todo o Mundo trocam imagens e informação, porque parece não haver fim para o que se pode inventar com esta técnica.

A ideia do Clube dos Pinholeiros surgiu com o objectivo de participar no Dia Mundial da Fotografia Pinhole. Anualmente, no último domingo de Abril, os praticantes de todo o Mundo tiram fotografias, que, depois, se poderão ver na página da Internet relativa ao "Pinhole Day". O Clube dos Pinholeiros já tem pouco tempo para treinar. Este ano, o 4º Dia Mundial da Fotografia Pinhole vai coincidir com o aniversário da Revolução de Abril, no dia 25.

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