Sem garra, sem talento, sem violência

Cuba na era antes do comunismo, 1950. Um "casino", o seu gerente, com relações duvidosas com os políticos locais, e a amante dele, a Rosa do título, que é cantora e uma das razões para o sucesso do estabelecimento.

Mas Rosa começou outro "affair" com um mais jovem galã. Não são só as ligações românticas que vacilam, são as alianças políticas, também, que tremem, porque o mundo lá fora está em mutação: está em marcha a revolução, que vai mudar o clube, que vai mudar a vida. É fácil, por estas linhas, perceber o projecto de Valeria Sarmiento, cineasta que começou a sua carreira em 1972 com o documentário "Un Sueño como de Colores" e que se estreou na longa-metragem de ficção, em 1984, com "Notre Marriage": utilizar um "cenário" - no sentido material, físico, o do casino, e no sentido mental, o da teia de relações que nele se cruzam - para assinalar as mutações do mundo. O mexicano Arturo Ripstein faz disso o centro da sua obra (dele está em exibição nas salas portuguesas "A Virgem da Luxúria"), e mesmo nos seus momentos mais infelizes Ripstein procede a uma violentação das formas do melodrama. Não é o caso de Sarmiento, que não vai mais além do que a estafada (e anacrónica) versão de exotismo sul-americano. Sem garra, sem talento, sem violência.

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