Morreu o general Kaúlza de Arriaga

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Kaúlza de Arriaga foi um dos mais temidos e contestados chefes militares do Estado Novo DR

Morreu esta noite, em Lisboa, o general Kaúlza de Arriaga, aos 89 anos de idade. Estava internado no Hospital Militar da Estrela, onde faleceu na sequência de uma doença respiratória.

Kaúlza de Arriaga foi um dos mais temidos e contestados chefes militares do Estado Novo e, em concreto, durante a fase em que assumiu as funções de comandante-chefe das Forças Armadas em Moçambique, onde conduziu as tropas portuguesas para a Operação Nó Górdio, uma acção militar clássica, ou seja, de guerra convencional, que foi a maior de toda a Guerra Colonial em meios humanos (oito mil homens) e materiais, mas veio a ficar muito aquém dos objectivos pretendidos.

Nos números oficiais esgrimidos por Kaúlza contra os seus críticos a operação custou a vida a 26 militares portugueses, para além de 27 feridos graves e não os "cento e tal mortos e inúmeros feridos" várias vezes referenciados por alguns dos seus opositores, como o marechal Costa Gomes, também já falecido.

No livro "Sobre Portugal", Costa Gomes considerou a Nó Górdio uma acção muito onerosa, inconveniente para as Forças Armadas por ter transferido para a Frelimo, o movimento de luta pela independência de Moçambique, a iniciativa operacional. Kaúlza sempre manteve a tese de que a Operação Nó Górdio e outras que se seguiram tiveram o mérito de vencer a Frelimo em Cabo Delgado e levar o domínio militar português a uma zona de alta importância estratégica, onde começava a ser erguida a barragem de Cabora Bassa.

Nascido no Porto, a 18 de Janeiro de 1915, Kaúlza de Arriaga formou-se em engenharia na Academia Militar e fez a sua formação de chefe militar no Instituto de Altos Estudos Militares, onde frequentou o curso de Estado-Maior e o curso de Altos-Comandos. Mais tarde, exerceu os cargos de chefe de gabinete do ministro da Defesa (1953/1955) e, quando eclodiu a Guerra Colonial, em Março de 1961, ocupava as funções de secretário de Estado da Aeronáutica. Em 1969, foi para Moçambique chefiar as Forças Terrestres e de 1970 a 1973 assume o posto de Comandante-Chefe das Forças Armadas nesta província ultramarina.

Ideologicamente muito ligado ao regime do Estado Novo, Kaúlza foi passado compulsivamente à reserva em Maio de 1974, poucos dias depois da revolução de Abril de 1974, mas não pelo Movimento dos Capitães, MFA. Foi a Junta de Salvação Nacional, liderada por António Spínola, que assumiu aquilo que sempre considerou um saneamento. A 28 de Setembro viria mesmo a ser preso e nessa situação se manteve até 1976.

O corpo do general Kaúlza de Arriaga está em câmara ardente no Hospital Militar Principal, Lisboa, e o funeral realiza-se amanhã para o cemitério dos Prazeres.

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