Shirin Ebadi recebe Prémio Nobel da Paz

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Ebadi é a primeira mulher muçulmana a receber o galardão Odd Andersen/AFP

A intelectual Shirin Ebadi recebeu hoje o Prémio Nobel da Paz tornando-se na primeira muçulmana a ser distinguida com o prestigiado galardão. No seu discurso, a iraniana acusou o Ocidente de ter usado os atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001 para justificar violações dos direitos humanos.

Advogada e professora, próxima do campo reformador iraniano, Ebadi recebeu 1,4 milhões de dólares (1,1 milhões de euros) e uma medalha de ouro das mãos do Comité Nobel, numa cerimónia na câmara municipal de Oslo, a capital norueguesa.

Ebadi foi distinguida pelo seu empenho na promoção dos direitos das mulheres e das crianças, nomeadamente escrevendo artigos desafiantes contra certas leis em vigor no Irão, que vêem a mulher como ser inferior (por exemplo, continua a precisar de pedir autorização ao marido para sair do país).

Adorada como um herói pelos reformadores e atacada pelos conservadores, Ebadi não usou véu na cerimónia e aproveitou o seu discurso para acusar os EUA de ignorarem as resoluções das Nações Unidas e de terem inventado pretextos para invadir o Iraque. "Nos últimos dois anos, alguns Estados têm violado princípios universais e leis de direitos humanos usando os acontecimentos do 11 de Setembro e a guerra contra o terrorismo internacional como uma desculpa", denunciou.

Após a cerimónia, em entrevista à CNN, Ebadi adiantou que vai gastar o dinheiro do prémio na continuação do seu trabalho em prol dos direitos humanos no Irão.

Depois de ter sido a primeira mulher a ascender à magistratura iraniana, no início da década de 1970, Ebadi foi afastada dos tribunais pela Revolução Islâmica de 1979, destacando-se actualmente como activista dos direitos humanos e pelo ensino na Universidade de Teerão.

Ebadi, que já tinha sido distinguida com o prémio Rafto em 2001, também relativo à defesa dos direitos humanos, dissera já este ano que no Irão "existe uma luta contínua pela democracia e pelos direitos humanos" e que "o povo iraniano quer reformar o seu sistema político e legal", por isso, vai continuar a lutar "contra as poucas pessoas que detêm o poder".

O galardão atribuído a Ebadi é, por isso, de difícil digestão para a teocracia iraniana, numa altura em que o país enfrenta pressões crescentes da comunidade internacional devido à intenção de Teerão de desenvolver um programa nuclear.

Shirin Ebadi é a décima primeira mulher a receber o galardão desde que este foi instituído, em 1901. Ebadi foi distinguida de entre um lote de 165 candidatos, entre os quais figuravam o Papa João Paulo II e o antigo Presidente checo Vaclav Havel. O Comité Nobel destacou a condição de muçulmana de Ebadi para a apresentar como um exemplo da coexistência entre a religião islâmica e os direitos humanos.

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