Norte do Uganda é palco do conflito mais esquecido do mundo

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Jan Egeland diz que se tem feito pouco para ajudar uma região dilacerada por um violento conflito armado Peter Busomoke/AFP

A guerra no norte do Uganda, travada há pelo menos 17 anos, transformou-se na crise humanitária mais "esquecida e negligenciada" do mundo, disse hoje em Nairobi o secretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários, Jan Egeland, depois de uma visita de dois dias àquela região.

O norte do Uganda é palco de constantes confrontos entre o Exército governamental e os rebeldes do Exército de Resistência do Senhor (LRA), liderado por Joseph Kony.

"Estou chocado. Aquilo que acontece e aquilo que está para acontecer é um verdadeiro escândalo moral", disse o mesmo responsável da ONU, informando ainda que este conflito já obrigou 1,3 milhões de pessoas a deixar as suas casas e provocou dezenas de milhares de mortos.

"Esta não é uma guerra que atinja indirectamente a população civil, é uma guerra que tem como alvo a população civil e mais precisamente as crianças", sublinhou.

"Devemos interrogar-nos. Como é que a comunidade internacional pode aceitar que uma guerra que se dirige contra crianças e que as toma como alvos continue?", questionou Jan Egeland.

Nos mais recentes incidentes naquela região, os rebeldes do LRA chacinaram mais de 60 pessoas no distrito de Lira e forçaram alguns habitantes a assistirem a decapitações dos seus conterrâneos

"Nós, Nações Unidas, fizemos pouco. Os dadores fizeram pouco. O Governo fez pouco. Temos de rectificar isto", afirmou.

Os rebeldes do LRA costumam cortar os lábios e membros às suas vítimas e raptam dezenas de milhares de crianças de pequenas localidades e forçam-nas a ir para a frente de guerra. Muitas delas tornam-se escravas sexuais.

Egeland afirmou que o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, vai dirigir-se aos dadores no dia 18 de Novembro para pedir fundos que suportem o trabalho humanitário em 25 países, incluindo o Uganda, o Congo, o Burundi e o Sudão.

No ano passado, o Governo ugandês destacou cerca de 14 mil soldados apoiados por helicópteros para a região, mas os ataques não param de aumentar em direcção a Kampala.

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