Naturezas mortas

Podia ser um daqueles filmes que habita uma zona de penumbra e de incógnita - objecto bizarro ou inanidade? Podia ser um daqueles casos em que um filme é uma memória interrompida que ficou connosco, é um rasto difuso de sonho (porque quando o vimos fomos adormecendo e fomos acordando, e o que ficou reteve o mistério).

"Podia", se houvesse espaço para a dúvida em "O Amor é Tudo". Mas não há. Depois do cinismo do norte da Europa, em "A Festa", Vinterberg é tão inábil com o melodrama à americana, que nem sequer se lhe pode criticar a pretensão - revela-se inconstante e frágil, sem o totalitarismo do visionário, sem a capacidade de transcendência a que está sempre a apelar. Pode-se, por isso ,tropeçar no ridículo (aquele avião com Sean Penn lá dentro). Há duas ou três ideias visuais fortes (os seres humanos a voar; os seres humanos mortos "do coração"), mas são imagens mentais que Vinterberg trata como naturezas mortas.

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