Ao querer fugir dos "clichés" do chamado "realismo britânico", Lynne Ramsey coloca "A Viagem de Morvern Callar" mesmo no centro do filme-sobre-personagem-sob-influência, e aí não há clichés que lhe escapem. É claro que Samantha Morton - olhar espantado, presença imprevisível - consegue ser um acontecimento no ecrã. Mas a questão é que a sua personagem em fuga, Morvern Callar, está totalmente aprisionada e manipulada pelo programa do filme, que é um onirismo, e às vezes abjeccionismo, de trazer por casa. Várias vezes, ao longo do filme, pensámos no que poderia fazer, por exemplo, Stephen Frears, cineasta que em "Dirty Pretty Things" (filme que veremos na próxima temporada) faz uma interessante tangente ao fantástico e ao "gore" sem deixar de ser, também, "social" e, sim, "realista".