Estudo Global do Futebol Português apresentado ontem no Porto

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Dos três cenários competitivos estudados, apenas uma SuperLiga com dez clubes parece ser rentável simultaneamente para todos os clubes João Abreu Miranda/Lusa

A conclusão do Estudo Global do Futebol Português, encomendado pela Liga de Clubes à Deloitte & Touche e apresentado ontem no Porto, parece evidente. Em pleno período de desequilíbrio estrutural dos clubes portugueses, ou o Estado “cumpre com o que se obrigou para o futebol”, como realçou Valentim Loureiro, disponibilizando uma fatia superior do seu orçamento para o futebol, ou a SuperLiga teria de ser radicalmente reduzida a dez clubes, cenário que a longo prazo, teoricamente, resolveria simultaneamente os problemas financeiros de todos os clubes, potenciando igualmente a competitividade.

Hélder Varandas, vice-presidente da empresa responsável pelo estudo, deixou claro que o cenário “dez clubes em quatro voltas (36 jogos)” é “o único que resolve os problemas que os clubes têm”. Esta hipótese (cenário 1) compreenderia a descida de uma equipa à II Liga, que estaria dividida em dois grupos – A (Norte) e B (Centro, Sul, Madeira e Açores) –, num total de 20 equipas. O cenário aposta num maior número de jogos entre as principais equipas, que potenciaria o aumento do espectáculo desportivo através de um campeonato semi-fechado, no aumento da receita média e na redução dos custos com deslocações nos escalões secundários. Por outro lado, o estudo alerta para o risco de agravamento dos desequilíbrios entre as equipas, para a reacção do público à multiplicação dos jogos entre as equipas participantes e para o problema que se colocaria ao nível da representação dos clubes nos órgãos da Liga. Apesar de o panorama ser perfeitamente utópico, a “contenção teria que subsistir”, acrescentou Hélder Varandas, que sugeriu ainda dois outros modelos competitivos: 12 clubes em duas voltas + “pool” final (32 jogos) e 16 clubes em duas voltas (30 jogos).

A orientação estratégica mais sensata terá mesmo de passar por aspectos paralelos. O reequacionamento da estrutura organizacional, a aposta na formação dos agentes desportivos (perante a comprovada má imagem dos dirigentes, árbitros e claques), a revisão da segurança nos recintos desportivos (apontado como principal factor dissuasor para a assistência de jogos ao vivo) e até a fixação de preços de bilhetes. Ou, em alternativa, adoptar a estratégia pessoal do presidente da Liga, que reclama “justiça sem tratamento especial” por parte do Estado. “O governo não pode continuar a furtar-se ao cumprimento da sua responsabilidade. Os dirigentes têm que perceber que o futebol não é uma economia à parte, mas faz parte de um todo”, concluiu o major, que apoiou a sua defesa na análise do impacto do futebol nas mais diversas vertentes da sociedade portuguesa.

“O problema do futebol não está na necessidade de gerar receitas, mas na necessidade de contenção de custos”, acrescentou Valentim Loureiro, que espera ainda ver estudada a possibilidade de o IVA nas deslocações dos clubes ser dedutível. A seu lado, o secretário de estado Hermínio Loureiro resolveu jogar pelo seguro: “Não faço promessas. O futebol tem todas as condições para ser uma das industrias mais fortes. Só falta dar o salto da credibilidade”. O presidente da Liga, que também defendeu uma “mudança de mentalidades”, completou com um apelo: “Não se pode aceitar que quem vive do futebol atinja permanentemente a sua credibilidade”.

Menos PIB do que o sector das bebidas

A receita directa obtida pelo sector ascende a 461 milhões de euros, o que representa 0,4 por cento do Produto Interno Bruto. Mais, o estudo indica que, em Portugal, a industria do futebol mobiliza (e emprega) 19.537 pessoas, gerando uma massa salarial na ordem dos 291 milhões de euros e representando cerca de 0,4 da população empregada. A Deloitte & Touche sugere mesmo a comparação entre os sectores “futebol” e “bebidas” no que diz respeito ao peso no PIB (0,4 contra dois pontos percentuais) e no emprego gerado (cerca de 20 mil contra cerca de 13 mil). No “ranking” europeu de receitas obtidas, Portugal posiciona- se na 7.ª posição, logo atrás da liga holandesa, sendo que os quatro grandes arrecadam mais de dois terços das receitas das equipas de futebol profissional. Neste particular, convém ainda referir que existem 1605 clubes de futebol em Portugal – cerca de 120 mil praticantes em 2001 –, mais do que o conjunto das restantes modalidades. O distrito do Porto representa 17,3 por cento do número total de praticantes.

A título de apontamento refirase que o Brasil é o principal mercado fornecedor de jogadores, que a contratação de jogadores comunitários e sul americanos tem sido cada vez maior e que as equipas têm apostado cada vez mais em jogadores em início de carreira. Em contrapartida, Espanha, Inglaterra, Itália e França são os principais mercados de destino – as transferências dos quatro grandes representam 80 por cento do total das transferências.

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