As artes decorativas de Maria Helena Mendes Pinto

"Vamos lá ver o que é que a gente vai levar para casa..." As quatro conservadoras fantasiam, de um lado para outro, na véspera da inauguração da exposição de artes decorativas portuguesa e a sua influência no mundo, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Mas "a chefe", como lhe chama João Pedro Garcia, director do Serviço Internacional que organizou a exposição de homenagem a Maria Helena Mendes Pinto, é fácil de identificar. Tem oitenta anos, todos se calam para a ouvir e tem o ar inconfundível de uma grande senhora.

A paixão de Maria Helena Mendes Pinto a falar de mobiliário - quase 50 anos depois do curso da Fundação Ricardo Espírito Santo Silva, a única escola por onde passou - , ultrapassa a das discípulas e comissárias da exposição, Maria Fernanda Passos Leite (Museu Gulbenkian), Maria Madalena Ataíde Garcia (Museu de Arte Popular) e Maria Conceição Borges de Sousa (Museu Nacional de Arte Antiga, MNAA).

No MNAA, consideram-na o exemplo de como os conservadores devem ser. Porque adora o que faz e desbravou uma área: a do mobiliário português. No museu, de onde se reformou em 1993, mas onde volta assiduamente, reuniu o primeiro núcleo individualizado de mobiliário. Depois de reformada, começou a colaborar com a Gulbenkian, sendo fundamental o seu trabalho na abertura dos museus de Rachol (Goa) e Cochim, ambos na Índia.

A exposição, "Peregrinações. De Portugal ao Japão: as artes decorativas entre os séculos XVI e XIX. Homenagem a Maria Helena Mendes Pinto", organiza-se em redor de 53 peças presentes nas várias publicações e projectos expositivos da conservadora. Peregrinações é uma referência ao escritor Fernão Mendes Pinto do séc. XVI, a cujo território Maria Helena, também Mendes Pinto, regressou. "Comecei a viajar em 1947. No Japão, adoram o meu nome."

Em casa, de mobiliário, Maria Helena Mendes Pinto não tem preciosidades, porque nunca compra nada: "Tenho o nível do Museu de Arte Antiga. É muito alto. Não tenho dinheiro para isso." Ontem, na inauguração, foi condecorada com o grau de Grande Oficial da Ordem de Mérito pelo primeiro-ministro Durão Barroso.

"Peregrinações. De Portugal ao Japão: as artes decorativas entre os séculos XVI e XIX. Homenagem a Maria Helena Mendes Pinto"

LISBOA Fundação Calouste Gulbenkian. Galeria de Exposições Temporárias. De 3ª a dom., das 10h às 18h. Entrada livre. Até 7 de Setembro.

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