Duas mulheres iranianas tentaram imolar-se hoje em Paris

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Ao fim do dia de ontem estavam presas 159 pessoas, entre as quais Maryam Rajavi, mulher do chefe do movimento AP

Duas mulheres iranianas encontra-se em estado grave após tentarem imolar-se pelo fogo, em paris, em protesto pela detenção, ontem, de mais de 150 membros dos Mujahedin e-Khalq (Combatentes do Povo), principal grupo de oposição armada ao regime iraniano e cujo braço político está instalado em França desde há 22 anos

Hoje de manhã, Marzieh Babakhani, que participava com uma quarentena de outros simpatizantes numa manifestação junto aos gabinetes de contra-espionagem franceses, em Paris, regou-se com gasolina e deitou fogo a si própria com um isqueiro, segundo uma testemunha local relatou à AFP. Gravemente queimada no rosto, a refugiada política instalada em Paris, segundo seus compatriotas, foi transportada para o hospital.

Algum tempo depois, uma outra mulher - Sedighieh Mohageri - que se encontrava nas imediações da primeira, tentou igualmente imolar-se, tendo também ficado ferida e sido encaminhada para o hospital.

Ao fim do dia de ontem estavam presas 159 pessoas, entre as quais Maryam Rajavi, mulher do chefe do movimento, Massoud Rajavi, e designada pelos Mujahedin como "futura Presidente do Irão". Foram apreendidos também 1,3 milhões de dólares em numerário e todo o material informático da organização islamista-marxista, mas não foram encontradas armas ou explosivos.

Mais de 1300 agentes mobilizados pelos serviços secretos e da contra-espionagem, pela Polícia Judiciária e Brigada de Repressão da Criminalidade Financeira, secundados por comandos de elite da Polícia e da Guarda Republicana, lançaram um assalto, às 06h00 da manhã, contra 13 locais diferentes ocupados pelos Mujahedin nos subúrbios de Paris. As portas foram arrombadas com pequenas cargas explosivas, mas a polícia não encontrou qualquer resistência.

O alvo principal era Auvers-sur-Oise, uma vila dos subúrbios de Paris onde os Mujahedin se instalaram há mais de 20 anos num complexo de vivendas ocupadas por Saleh Rajavi, um cardiologista irmão do "número um" do movimento e por centena e meia de militantes. Este complexo é a sede do Conselho Nacional da Resistência Iraniana (CNRI), considerado pelas autoridades como uma fachada da Organização dos Mujahidin e-Khalq (OMPI), inscrita tanto na lista das organizações terroristas da União Europeia como na do Departamento de Estado norte-americano.

Estalinistas e islamistas

A OMPI tem um braço militar, o Exército de Libertação Nacional do Irão (ELNI), fundado por Massoud Rajavi em 1986 e instalado no Iraque, onde beneficiava do apoio do deposto Presidente iraquiano, Saddam Hussein. Desde a queda do ditador, há pouco mais de um mês, a vivenda de Saleh Rajavi em Aubers-sur-Oise teria sido transformada no quartel-general mundial dos Mujahidin, um movimento cujo funcionamento opaco é inspirado no estalinismo e no islamismo.

Oficialmente, a gigantesca rusga seria o resultado de um inquérito sobre o financiamento do CNRI conduzido desde há três anos pelo juiz de operações antiterroristas Jean-Louis Bruguière e confiada à brigada contra a criminalidade financeira. Mas o ex-Presidente iraniano Bani Sadr, que está exilado em França desde 1980, estima que "não há explicação clara para a operação de polícia francesa, visto a OMPI ser uma organização acabada".

O ministro do Interior francês, Nicolas Sarkozy, afirmou que haveria razões para crer que os Mujahedin estariam a fomentar atentados terroristas. Uma acusação qualificada de "grotesca" por Ali Safavi, porta-voz dos Mujahedin em Londres, que acusa Paris de quer conquistar "as boas graças do regime fundamentalista iraniano".

Especialistas franceses do Irão, como os historiadores Antoine Sfeir ou Azadeh Kian-Thiébaut, notam que a operação francesa decorre numa altura em as autoridades americanas negoceiam com a OMPI e o ELNI no Iraque e em que Paris procura estreitar laços com Teerão.

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