Força militar europeia substitui NATO na Macedónia

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Cerimónia de substituição do comando da força internacional em Skopje: a UE assume herança da NATO Georgi Licovski/AFP

Quase que totalmente ofuscado devido à actual guerra desencadeada contra o Iraque, a União Europeia (UE) protagonizou ontem um momento histórico, ao assumir pela primeira vez a responsabilidade por uma operação militar de manutenção da paz.

Entre diversos responsáveis oficiais era visível a frustração pela desvalorização fornecida ao início da “Operação Concórdia” na Antiga República Jugoslava da Macedónia, na qual quase 400 soldados europeus passaram a substituir a força multinacional da NATO no terreno.

Apesar de ocorrer num palco relativamente limitado e estar para já reduzida a seis meses, esta missão da força militar europeia (EUFOR) na Macedónia constitui um teste crucial para futuras operações humanitárias e de manutenção da paz mais amplas e complexas. Sobretudo, um desafio à eficácia da almejada política externa e de segurança comum (PESC), agora ainda mais fragilizada na sequência das divisões sobre o Iraque, sobretudo entre Londres e o eixo Paris-Berlim.

À semelhança do que ainda sucede em outras regiões da antiga Jugoslávia, a NATO enviou uma força multinacional para a Macedónia em finais de 2001, na sequência dos graves confrontos ocorridos desde o início desse ano entre forças governamentais dominadas pela maioria eslava e rebeldes armados albaneses.

Ontem, e na sequência de uma cerimónia em Skopje, o general francês Pierre Maral assumiu o comando da operação, que deverá actuar sobretudo nas zonas do Nordeste do país, junto às fronteiras da província do Kosovo e da Albânia, onde ocorreram os piores confrontos intercomunitários que terão provocado entre 70 a 150 mortos. A principal tarefa deste contingente, que inclui 380 solados provenientes de 27 países – Portugal deverá manter seis militares no terreno – consistirá em assegurar uma presença internacional nestas regiões de maioria albanesa e ainda muito fragilizadas pelas tensões interétnicas.

O chefe de Estado macedónio Boris Trajkovski, o secretário-geral da NATO, George Robertson, e o Alto Representante da UE para a política externa, Javier Solana, assistiram à cerimónia, na qual uma bandeira da UE foi hasteada no quartel-general da NATO em Skopje. O ex-chefe rebelde albanês do dissolvido Exército de Libertação Nacional (UÇK), Ali Ahmeti, agora integrado num Governo de “união nacional” com os sociaisdemocratas macedónios eslavos, também marcou presença.

“Ao assumir a sua primeira missão militar, a UE está a demonstrar que a sua política de segurança e defesa atingiu a maioridade”, considerou Robertson na sua alocução.

O Presidente macedónio, sensível à situação interna neste frágil Estado do Sul dos Balcãs e que integra uma importante minoria albanesa muçulmana (cerca de 30 por cento dos dois milhões de habitantes), desejou que “esta primeira missão da UE seja a última para a Macedónia”.

O início da operação “Concórdia” também significa um crescente protagonismo europeu, que se prepara para “herdar” a gestão desta região do continente ainda muito instável, e quando aumentam os sinais sobre o desejo de progressiva retirada das tropas norte-americanas, decerto devido a outras prioridades. A UE também ultima os preparativos para tornar operacional a Força de Reacção Rápida (60 mil soldados), vocacionada para intervir em “cenários de crise” no interior e exterior das suas fronteiras, e pretende também assumir o comando, já no próximo ano, da força militar da NATO instalada na Bósnia-Herzegovina desde 1996.

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