Quatro Marés Negras na Galiza Desde 1976


A maré negra provocada pelo petroleiro "Prestige" é a quarta desde 1976 a atingir a costa da Galiza, uma das áreas mais ricas do país em recursos pesqueiros. As outras três catástrofes ambientais foram:

1976 - 12 Maio

O petroleiro espanhol "Urquillo", transportando perto de 120 mil toneladas de petróleo bruto (mais 15.000 do que deveria), parte-se em dois e incendeia-se à entrada do porto de A Corunha. A maré negra tinge 100km de costa.

1978 - 31 Dezembro

Uma tempestade provoca uma fractura no casco do petroleiro grego "Andros Patria", que se incendeia ao largo do cabo Finisterra. Cerca de 50 mil das 200 mil toneladas de "crude" a bordo são derramadas no mar, provocando uma maré negra que afecta as costas da Galiza e das Astúrias.

1992 - 3 Dezembro

Outro navio tanque grego, o "Aegean Sea", carregado com 79 mil toneladas de petróleo bruto, parte-se em dois e incendeia-se nas proximidades do porto de A Corunha, depois embater em rochedos durante uma tempestade. A maré negra polui 200 km de litoral.





Petroleiro "Prestige" afundou-se por completo

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PUBLICO.PT

O petroleiro "Prestige" afundou-se por completo às 15h30 (hora de Lisboa), depois de esta manhã se ter partido ao meio a 270 quilómetros da costa galega, numa zona em que o salvamento é da responsabilidade de Portugal, informou a empresa holandesa Smit International, responsável pelas operações.

"As duas partes afundaram-se", declarou à AFP um responsável da empresa contratada pelo armador para rebocar o petroleiro, naufragado na passada sexta-feira junto ao cabo Finisterra.

A mesma fonte afirmou não ter informações concretas sobre a quantidade de fuelóleo derramado depois do petroleiro se ter partido em dois, ao início da manhã de hoje. "Esperamos e acreditamos que a maioria do fuel tenha permanecido no interior do navio, no fundo do mar", que naquela zona tem cerca de 3500 metros de profundidade. Esta profundidade "foi uma das razões pelas quais rebocámos o navio para longe da costa", afirmou. "O fuel acabará por subir [à tona], mas esse poderá ser um processo muito lento", concluiu.

O Governo espanhol tem na zona quatro rebocadores, três helicópteros, três aviões de reconhecimento e serão chamados três vasos anti-contaminação para a região. Portugal tem na zona um aviocar, que está a monitorizar a situação, e a corveta João Coutinho e já hoje foi enviada para o local - que fica dentro da Zona Económica Exclusiva espanhola, mas numa zona em que o resgate e salvamento é da responsabilidade de Portugal - mais uma fragata.

O ministro da Defesa, Paulo Portas, que se encontra em Bruxelas para uma reunião dos ministros da Defesa da União Europeia, revelou ter mantido conversações com o seu homólogo espanhol para decidir acções conjuntas de prevenção, mas não adiantou pormenores concretos do que virá a ser feito. O governante sublinhou apenas que o naufrágio ocorreu dentro de águas territoriais espanholas e isso tem "consequências jurídicas".

Desde ontem que uma célula de crise do Governo está a acompanhar em permanência a situação, integrando responsáveis dos ministérios da Defesa, Ambiente, Obras Públicas, Agricultura e Pescas, do Estado-Maior da Armada e da Protecção Civil.

Entretanto, o PS quer que o Governo esclareça amanhã em plenário as consequências ambientais e as medidas de prevenção tomadas após o acidente ocorrido com o petroleiro "Prestige", bem como o impacte que o incidente terá nas relações diplomáticas com Espanha.

Reforçados meios de combate à poluição

Entretanto, o secretário de Estado da Defesa, Henrique Freitas, anunciou ao início da tarde, em conferência de imprensa, que estão a ser reforçados os meios de combate à poluição na costa norte portuguesa (entre Aveiro e Caminha), que poderá vir a ser afectada se as correntes empurrarem as manchas de óleo libertadas para sul. Este reforço passa pelo envio de barreiras de protecção para os portos que não se encontrem equipados com este meio de contenção das manchas de combustível.

De acordo com o chefe de Estado-Maior da Armada, Vidal de Abreu, não é provável que as manchas de crude entretanto libertadas "atinjam a costa portuguesa" nos próximos dois dias. "Mesmo em condições meteorológicas desfavoráveis, se um bocado da maré negra entrar na nossa Zona Económica Exclusiva [àguas territoriais portuguesas], isto não acontecerá nas próximas 48 horas", explicou o almirante, ressalvando, porém, que tudo dependerá do evoluir das condições meteorológicas.

Há neste momento quatro manchas de crude a assinalar. A primeira, produzida nos últimos dias e que afecta parte da costa galega, numa extensão de 130 quilómetros, entre A Corunha e o cabo Finisterra. Há duas manchas de crude, uma a sul do cabo Finisterra e que toca o litoral na zona de Carnota e uma segunda mancha, de maior extensão, ao longo da costa de Corrubedo.

Uma quarta mancha de combustível, mais pequena, encontra-se em redor do local do naufrágio do "Prestige" e tem, segundo o almirante, "cerca de duas milhas de raio". Esta última era já esperada, desde que esta manhã o navio se partiu em duas partes e a ruptura atingiu o tanque central da embarcação, onde estavam armazenadas seis mil toneladas de crude.

Petroleiro partiu-se ao início da manhã

O petroleiro "Prestige" partiu-se em dois ao princípio da manhã de hoje, a apenas 30 milhas a norte do limite norte da Zona Económica Exclusiva portuguesa e a 145 milhas de Caminha. Cerca das 13h00 (hora de Lisboa) a parte da popa afundou-se, tendo a parte da dianteira ficado a flutuar, com o bico da proa virado para cima. Foi esta parte que acabou agora por submergir.

O barco estava a ser rebocado para sul por dois rebocadores espanhóis, com outros dois rebocadores de prevenção, além de uma fragata do Exército espanhol, segundo disse ao PUBLICO.PT Carlos Veira Penoucos, do gabinete de imprensa do delegado do governo regional da Galiza.

Tendo em conta que a possibilidade das cerca de 70 mil toneladas de combustível se libertarem no mar, há riscos ecológicos evidentes para as rias baixas galegas, a costa galega e, potencialmente, para a costa norte portuguesa, entre Caminha e Aveiro.

Maré negra em Portugal: que efeitos?

Ontem, a hipótese de o petroleiro "Prestige" continuar a ser rebocado para sul, o que sucedeu durante toda a noite, levou o biólogo Francisco Andrade, da Faculdade de Ciências de Lisboa, admitir que "quanto mais para sul, mais facilmente o crude atingiria a costa portuguesa".

Com o petroleiro mais a sul e com ventos de sudoeste, característicos dos dias de mau tempo em Portugal, estariam criadas as condições ideais para uma eventual maré negra atingir o litoral do país, admitia-se ontem. O cenário seria ainda pior se isto ocorresse num momento em que a maré estivesse a encher, o que levaria o crude para dentro dos estuários: os dos rios Minho, Lima e Cávado seriam os primeiros a serem atingidos. "É o mais grave que poderia acontecer", avaliou Francisco Andrade, salientando: "Demorariam anos a recuperar".

Uma maré negra ocorrida nesta altura provavelmente afectaria muito as aves que vieram passar o Inverno junto do litoral português, a norte do Cabo Mondego. "Temos mais aves marinhas na costa agora do que em qualquer outra época do ano", afirma o biólogo Domingos Leitão, da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves.

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