Relatório do PNUD classifica Timor-Leste como país mais pobre da Ásia

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Timor-Leste assumirá, a partir do dia 20 de Maio, um lugar entre os 20 países mais pobres do mundo Paulo Novais/Lusa

Timor-Leste será oficialmente o país mais pobre da Ásia e um dos países mais pobres do mundo, de acordo com um relatório hoje apresentado pelas Nações Unidas a Xanana Gusmão.

O Relatório Nacional do Desenvolvimento Humano 2002, elaborado pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), refere que se o território tivesse sido incluído no último documento global, que analisou no ano passado 162 países, ficaria em 152º lugar.

O documento, a que a Lusa teve acesso antecipadamente, mostra que Timor-Leste assumirá a partir do dia 20 um lugar entre os 20 países mais pobres do mundo, com um Produto Interno Bruto (PIB) per capita de apenas 478 dólares.

Em termos de desenvolvimento humano fica na mesma categoria de países como Angola, Guiné-Bissau ou Moçambique (três ex-colónias portuguesas), ou ainda o Ruanda ou o Bangladesh.

A esperança de vida em Timor-Leste é de 57 anos, quase metade da população vive com menos de 55 cêntimos de dólar por dia (cerca de 60 cêntimos de euro) e também mais de metade dos timorenses são analfabetos.

Outros dados preocupantes indicam que 50 por cento das crianças sofrem de carências e que os traumas e destruição de 1999 continuam bem presentes no território.

Relatório oficialmente apresentado a Xanana Gusmão

Elaborado pela primeira vez, o relatório é hoje apresentado oficialmente ao Presidente timorense, Xanana Gusmão, pelo representante residente do PNUD em Díli, Finn Reske-Nielsen.

O Presidente timorense já manifestou preocupações com os números atribuídos ao território e lamenta nomeadamente a morte de muitas crianças por doenças curáveis e o desemprego dos jovens, sem esquecer os números do analfabetismo e da esperança de vida.

O chefe das Nações Unidas em Timor-Leste, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, deixa palavras de encorajamento, afirmando-se seguro de que a missão da ONU, a UNTAET, deixou as "fundações para o desenvolvimento" e de que o Governo timorense será capaz de progredir através de um desenvolvimento sustentado.

Finn Reske-Nielsen admite que Timor-Leste é um dos países mais pobres do mundo - um cenário que se manterá por mais alguns anos -, pelo que continuará a precisar do apoio internacional. Na sua mensagem o responsável do PNUD deixa no entanto palavras de esperança, considerando que o território tem grande potencial para vencer as dificuldades.

"Durante muitos anos Timor-Leste trabalhou, quase sozinho, para adquirir a independência. No futuro será necessário muito mais trabalho, mas Timor-Leste não estará sozinho", afirma.

Apesar deste optimismo, Timor-Leste apresentou no ano passado um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de apenas 0,42. O IDH é um indicador do PNUD que combina rendimento, educação e saúde. O IDH de Timor-Leste coloca o território no último lugar dos países asiáticos e no grupo dos 20 países em pior situação do mundo.

O relatório - elaborado por uma equipa de peritos timorenses e internacionais e que acolhe comentários e sugestões de um amplo grupo - sugere que nos primeiros anos de independência o povo dependerá muito da competência e capacidade dos serviços públicos, porque o sector privado é fraco, e da capacidade de a sociedade civil se adaptar ao novo estilo de vida.

"O novo Governo de Timor-Leste enfrenta a tarefa assustadora de construir um sistema novo de governação que reflicta princípios democráticos e envolva o povo de Timor-Leste e todos os sectores da sociedade", afirma-se no documento.

O PNUD define o desenvolvimento humano como "o processo de aumentar as escolhas das pessoas" - dando-lhes a capacidade de terem vidas mais longas e saudáveis, de terem acesso a conhecimentos, a um nível de vida digno, e de desempenharem um papel activo da vida das suas comunidades.

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